sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A Água da Paz - uma maneira eficaz de se evitar discussões improdutivas

Em setembro de 2006, a revista Época (da Ed. Globo) fez duas eleições para escolher o maior brasileiro da História. Na primeira, um grupo de intelectuais montado pela revista escolheu Ruy Barbosa que foi, então, capa da edição 434 da revista. Na segunda eleição, do qual participaram milhares de leitores, Chico Xavier foi o mais votado, tornando-se, assim, a matéria de capa da revista Galileu História (da mesma editora) no. 8, de outubro do mesmo ano.

No editorial, o editor-chefe apresenta o Chico como “o maior nome do espiritismo do século XX” e acrescenta que: “Graças às impressionantes mensagens psicografadas por ele em seu centro espírita em Uberaba, brasileiros das mais diversas religiões passaram a ver o trabalho de médiuns com outros olhos. Não raro, católicos, protestantes e evangélicos declaram sua admiração e respeito pela obra realizada por Xavier”.

A matéria “O Homem que Escutava” tem 12 páginas. Traça uma breve biografia do Chico, trás um pequeno dicionário dos termos espíritas mais usados (dicionário espírita on line de Jorge Luiz Niederauer de Lima - http://www.annex.com.br/pessoais/confrariahpe/verbetes.htm) e uma entrevista com um dos seus biógrafos, Marcel Souto Maior, sobre seus contatos com o Chico. Trás, também, vários casos reais do Chico do livro “Lindos Casos de Chico Xavier”, de Ramiro Gama (Ed. Lake, 1995).

Um dos casos, que reproduzo abaixo, apesar de conhecido por muitos, vale a pena ser divulgado pela lição singela que nos dá, típica do Chico.

A ÁGUA DA PAZ

Em torno da mediunidade, improvisam-se, ao redor do Chico, acesas discussões.
É, não é. Viu, não viu.
E o médium sofria, por vezes, longas irritações, a fim de explicar sem ser compreendido.
Por isso, à hora da prece, achava-se quase sempre desanimado e aflito.
Certa feita, o Espírito de Dona Maria João de Deus compareceu e aconselhou-lhe: “Meu filho, para curar essas inquietações você deve usar a Água da Paz”.
O Médium, satisfeito, procurou o medicamento em todas as farmácias de Pedro Leopoldo.
Não o encontrou. Recorreu a Belo Horizonte. Nada.
Ao fim de duas semanas, comunicou à progenitora desencarnada o fracasso da busca.
Dona Maria sorriu e informou: “Não precisa viajar em semelhante procura. Você poderá obter o remédio em casa mesmo. A Água da Paz pode ser a água do pote. Quando alguém lhe trouxer provocações com a palavra, beba um pouco de água pura e conserve-a na boca. Não a lance fora, nem a engula. Enquanto perdurar a tentação de responder, guarde a água da paz, banhando a língua”.
O Médium baixou, então, os olhos, desapontado.
Compreendera que a mãezinha lhe chamava o espírito à lição da humildade e do silêncio.

domingo, 19 de dezembro de 2010

NÃO PODEMOS FAZER UM NOVO COMEÇO, MAS UM NOVO FIM

       Um amigo, que chamarei aqui de Leôncio, contou-me sobre um estranho fenômeno que ocorre eventualmente com ele. Leôncio faz trabalho voluntário com famílias carentes e, num passado próximo, trabalhou também com  moradores de rua. O fenômeno é o seguinte: olhando para a pessoa à sua frente (assistidos com os quais trabalha), visualiza, às vezes com muita clareza, uma imagem dela como teria sido numa existência anterior. 
        Assim, mendigos transformam-se em orgulhosos nobres ou ricos comerciantes, mulheres maltrapilhas em damas altivas e ricamente adornadas. Junto com essas visões, vêm-lhe também, num rápido flash de segundos, uma espécie de filme compacto de aspectos da vida anterior da pessoa em ambientes nos quais teria vivido. De coisas que teria feito e/ou deixado de fazer relacionadas às atuais condições e dificuldades da existência atual.
        Vendo tais coisas, ele compreende muito do porquê do comportamento, expressões e atitudes da pessoa que está assistindo.                                                  
       Conheço Leôncio há muitos anos e o vejo como uma pessoa com "pé no chão", não propenso a devaneios e um pouco "São Tomé" (aquele que precisa ver evidências concretas para crer). Ou seja, não sofre de trantorno mental com surtos delírantes, nem alguém de mente frágil que se deixe levar facilmente pela imaginação, a ponto de não distinguir realidade de fantasia.
       Por ser espírita, Leôncio aceita com tranquilidade tais visões: não se empolga com elas, nem se assusta. As imagens vem-lhe quando está tranquilo, equilibrado, e trazem com elas um sereno sentimento de verdade.
       Para ele, tais experiências reforçam sua crença na reencarnação e na lei cármica da ação e reação, a qual nos ensina que nossa vida atual, potenciais e tendências (positivas e negativas) são produtos de nossas ações anteriores. E que nossa situação atual não é um destino fixo, mas dinâmico, pois, como disse Chico Xavier, embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim".

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Lindos Casos de Chico Xavier: A Caridade e a Oração

 Mais um dos lindos casos do livro de Ramiro Gama:
  
        “O Centro Espírita Luiz Gonzaga” ia seguindo para a frente... Certa feita, alguns populares chegaram à reunião pedindo socorro para um cego acidentado.
       O pobre mendigo, mal guiado por um companheiro ébrio, caíra sob o viaduto da Central do Brasil, na saída de Pedro Leopoldo para Matozinhos, precipitando-se ao solo, de uma altura de quatro metros.
       O guia desaparecera e o cego vertia sangue pela boca.
       Sozinho, sem ninguém...
       Chico alugou pequeno pardieiro, onde o enfermo foi asilado para tratamento médico.
       Curioso facultativo receitou, graciosamente.
       Mas o velhinho precisava de enfermagem.
       O médium velava junto dele à noite, mas durante o dia precisava atender às próprias obrigações na condição de caixeiro do Sr. José Felizardo.
       Havia, por essa época, 1928, uma pequena folha semanal, em Pedro Leopoldo.
       E Chico providenciou para que fosse publicada uma solicitação, rogando o concurso de alguém que pudesse prestar serviços ao cego Cecílio, durante o dia, porque à noite, ele próprio se responsabilizaria pelo doente. 
      Alguém que pudesse ajudar.
      Não importava que o auxílio viesse de espíritas, católicos ou ateus.
      Seis dias se passaram sem que ninguém se oferecesse.
      Ao fim da semana, porém, duas meretrizes muito conhecidas na cidade se apresentaram e disseram-lhe:
      — Chico, lemos o pedido e aqui estamos. Se pudermos servir...
      — Ah! como não? — replicou o médium — Entrem, irmãs! Jesus há de abençoar-lhes a caridade.
      Todas as noites, antes de sair, as mulheres oravam com o Chico, ao pé do enfermo.
      Decorrido um mês, quando o cego se restabeleceu, reuniram-se pela derradeira vez, em prece, com o velhinho feliz.
      Quando o Chico terminou a oração de agradecimento a Jesus, os quatro choravam.
Então, uma delas disse ao médium:
      — Chico, a prece modificou a nossa vida. Estamos a despedir-nos. Mudamo-nos para Belo Horizonte, a fim de trabalhar.
      E uma passou a servir numa tinturaria, desencarnando anos depois e a outra conquistou o título de enfermeira, vivendo, ainda hoje, respeitada e feliz.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

LIBERTANDO-SE DAS CORRENTES DO ÓDIO

       Neste sábado passado, estive com dna. Ruth. Ela já fez a reconstituição do assassinato do filho. O acusado pelo assassinato não apareceu. Dna. Ruth manteve-se calma e ajudou na reconstituição do crime, tendo um policial civil feito o papel do acusado e o filho de uma vizinha desempenhado o papel do seu filho assassinado. As informações obtidas parecem ter sido adequadas e dna. Ruth foi elogiada pela coragem e pela coerência de seu desempenho.
       Ao conversar com dna. Ruth, percebi que ela estava muito bem. Disse-me que, desde que iniciamos o tratamento, tem se lembrado constantemente de sua redecisão "estou tranqüila, com Jesus no coração" (veja postagem "A Primeira Sessão com Dna. Ruth" de 29/10/2010) e, com isto, sentido-se melhor, a insônia praticamente acabou, assim como os pensamentos intrusivos - as imagens e pensamentos "obsessivos" relacionados à situação traumática que vivenciou dois anos atrás.
       Contou-me, também, que ficou preocupada pelo fato de que, em decorrência da reconstituição, teria que faltar à prova final do Curso Básico que está fazendo na Federação Espírita do Estado de S. Paulo (FEESP), e temia perder o ano por isto. Conversou com a Sílvia sobre isto e ela a acalmou, dizendo que não se preocupasse, porque falaria com a diretora da área - sua falta era justificável e, dentro dos procedimentos da área de ensino, teria oportunidade de fazer uma nova prova. E assim ocorreu.
       Dna. Ruth também se preocupava porque, embora prestasse atenção nas aulas, não faltasse e respondesse aos questionários (lições de casa), achava que não estava conseguindo reter o que os expositores haviam ensinado. Contudo, na hora da prova, sentiu-se muito calma e, à cada questão, as respostas vinham-lhe à mente. Acertou todas!
     Nesta nova fase de sua vida, outra coisa começou a acontecer à dna. Ruth: aparentes episódios de precognição. Algumas vezes, tem sonhado, outras pressentido acontecimentos que acabam se realizando. Desde acontecimentos mais corriqueiros, como pensar intensamente numa pessoa e esta dali a pouco telefonar-lhe, quanto eventos mais significativos, como quando sonhou, vários dias antes dos acontecimentos do Rio, quando traficantes por várias dias incendiaram carros e ônibus. Antes que tais fatos ocorressem e fosse noticiados pela mídia, dna. Ruth sonhou com grupos de chefes de bandidos ordenando as queimas de carros e depois seus comandados ateando fogo a veículos nas ruas. Acordou assustada, sem compreender o que era aquilo, só entendo quando os eventos começaram a ser noticiados.
       É claro que para se determinar se ocorreu ou não de fato precognição seria necessário uma pesquisa mais rigorosa e, se possível, testes. Porém, diante  de detalhes que ela narrou espontaneamente e em resposta a perguntas que lhe fiz, acredito haver indícios de precognição. Independentemente da existência ou não de evidências significativas de precognição (que outras "coincidências" semelhantes no futuro poderão fortalecer), dna. Ruth pareceu-me espiritualmente bem e, disse-me, com a certeza de que seu filho está bem no plano espiritual. 
       Esta certeza a tranqüiliza e a ajuda no processo de perdão do assassino. Ela está se convencendo, cada vez mais, que este perdão é importante para sua própria paz de espírito, para se libertar do trauma e das correntes que ainda a prendem ao assassino do filho. 
       Como no clássico filme "Acorrentados" (de 1959, com Tony Curtis e Sidney Poitier), essas correntes apenas podem ser quebradas pela superação do ódio, pela conciliação (ao menos internamente, mas verídica, honesta). Este, entretanto, é um processo que raramente ocorre todo de uma só vez. Mas, à medida que o perdão progride, progride também a sensação de alívio, libertação e paz...

sábado, 27 de novembro de 2010

CONFORMAÇÃO E CONFORMISMO

       Visitamos hoje uma senhora que chamarei de dna. Márcia. Já a havia visitado com a Sílvia, assim como o Gil também a visitara com a Sílvia em outra ocasião. Hoje estávamos os três - Sílvia, Gil e eu - na realização do Evangelho no Lar com Dna. Márcia.
       Quando a visitamos pela primeira vez, fiquei impressionado. Dna. Márcia mora sozinha num cômodo de um cortiço e sofre de depressão grave e convulsões, além de dificuldade de locomoção em razão de problemas numa perna (anda com muleta). Em razão de alguns remédios fortes que toma, tem alguma dificuldade em falar com clareza. Faz tratamento ambulatorial no Hospital das Clínicas e sobrevive com a aposentadoria e a cesta básica que recebe do nosso programa social.
       Mas, não se entregou. Freqüenta um dos grupos de apoio coordenado pela Sílvia, onde participa ativamente, contribuindo com opiniões e idéias nas dinâmicas, mostrando boa capacidade de entendimento, elaboração e empatia. É, também, uma das ativas leitoras da pequena biblioteca que a Sílvia implantou e administra para nossos assistidos.
       O cômodo modesto estava limpo e bem arrumado (como hoje na visita de surpresa que fizemos) e, na porta de entrada e na porta do armário, estavam coladas com fita adesiva, ordenadamente, suas receitas de remédios, cronograma dos dias e horários em que faria o tratamento ambulatorial, contas e alguns outros lembretes. Com a depressão e os remédios que toma, dna. Ruth esquece-se com freqüência de algumas coisas. Por isto coloca bem à vista os lembretes importantes.
       A inteligência racional e emocional que mostra pelo seu senso de organização e planejamento, bem como por suas idéias e iniciativas, contrasta com as condições físicas e psicológicas que aparenta e a sua situação de moradia. Nela percebi claramente um espírito que já havia conquistado níveis mais altos em termos intelectuais e até emocionais, mas, por alguma razão cármica, nesta existência estava numa condição bem abaixo daquela que conquistara e a qual se habituara. Porém, pelo que vi, estava lutando positivamente, buscando não se entregar às dificuldades. E a visita e o Evangelho no Lar de hoje confirmou para mim esta percepção.
       Dna. Márcia aprendeu a se conformar ativamente às dificuldades que enfrenta, sem conformismo, como nas palavras de Emmanuel pela psicografia de Chico Xavier em "Diante do Conformismo" (Palavras de Vida Eterna, cap. 131. Uberaba, MG: Comunhão Espírita Cristã, 2007).
       Emmanuel inicia citando o apóstolo Paulo de Tarso, com quem sempre aprendemos muito: 
       "E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." (Romanos 12:2).
       E, no trecho que reproduzo abaixo, explica que:
       "Há conformação e conformismo. 
       Conformismo é o sistema de ajustar-se alguém a todas as circunstâncias.
       Conformação é a submissão voluntária e serena da pessoa às aperturas da vida.
       Existem, por isso, diante de Jesus, os discípulos conformados e conformistas.
       Os conformados são fiéis às disciplinas que o Mestre lhes aconselha.
       Os conformistas, porém, adaptam-se, mecanicamente, às convenções e ilusões que lubrificam os mecanismos das conveniências humanas."
       Talvez, nesta encarnação, dna. Márcia tenha vindo nas condições em que veio para aprender, entre outras coisas, a conformação. Se for isto, está aprendendo! E nos ensinando também!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Boas Notícias Sobre Duas de Nossas Assistidas

Sábado passado, tive uma nova sessão com Joana, a menina de 14 anos que atendi dia 30 de outubro (veja "Estresse Pós-Traumático e uma Feliz Coincidência", aqui neste blog). Ela está bem melhor! Tem praticado a sua "redecisão" e com o apoio de sua mãe. Já sai sozinha, a ansiedade crônica diminuiu muito, assim como as imagens e os pensamentos obsessivos relacionados ao acontecimento traumático. O embotamento emocional também diminuiu, mostrando-se mais natural na expressão dos seus sentimentos. Graças a Deus!


Conversei também com dna. Ruth (veja "Tratando um Trauma Psíquico"). Como já havia comentado em "A Segunda Sessão com dna. Ruth", ela estava bem melhor. Mas, agora, dois anos após o assassinato de seu filho, a polícia resolveu fazer uma reconstituição do assassinato e com a participação dela e do acusado! É claro que que dna. Ruth estava abalada e assustada! Afinal, o acusado é um homem violento, está solto e ela o veria cara a cara, interagindo com ele na reconstituição que poderia ser uma peça importante para a acusação dele. E, depois, com a morosidade da nossa justiça, o que poderia acontecer? O que um homem como ele poderia fazer a ela até o julgamento? Dna. Ruth pensava tudo isto...


Uma vantagem que dna. Ruth tem é sua fé que vem crescendo dia-a-dia, o que a fortalece e ajuda na elaboração do trauma. Conversamos sobre tudo isto, fortalecendo sua "redecisão" e sua fé. Ao final, ela estava bem mais tranqüila e decidida a fazer a reconstituição. Não a encorajei a isto, tendo em vista o risco. Mas, tendo ela tomado a decisão, apoiei-a e à sua fé.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A Vaidade Cega

Mais um caso do Chico que nos ensina muito (de "Lindos Casos de Chico Xavier").


QUEM DERA QUE VOCÊ FOSSE O CHICO...


Numa livraria de Belo Horizonte, servia um irmão que, pelo hábito de ouvir constantes elogios ao Chico Xavier, tomou-se de admiração pelo Médium. Leu, pois, com interesse, todos os livros de Emmanuel, André Luiz, Néio Lúcio, Irmão X e desejou, insistentemente, conhecer o psicógrafo de Pedro Leopoldo. E aos fregueses pedia, de quando em quando: "Façam-me o grande favor de me apresentar o Chico, logo aqui apareça".


Numa tarde, quando o Aloísio, pois assim se chamava o empregado, reiterava a alguém o pedido, o Chico entra na Livraria. 


Todos os presentes, menos o Aloísio, se surpreendem e se alegram. Abraçam o Médium, indagam-lhe as novidades recebidas. E depois, um deles se dirige ao Aloísio: "Você não desejava ansiosamente conhecer o nosso Chico?"


"Sim, ando atrás desse momento de felicidade..."


"Pois aqui o tem."


Aloísio o examina; vê-o tão sobriamente vestido, tão simples, tão decepcionante. E correspondendo ao abraço do admirado psicógrafo, com ar de quem falava uma verdade e não era nenhum tolo, para acreditar em tamanho absurdo: "Quem dera que você fosse o Chico, quem dera!..."


E Chico, compreendendo, que Aloísio não pudera acreditar que fosse ele o Chico pela maneira como se apresentava, responde-lhe, candidamente: "É mesmo, quem me dera..."


E, despedindo-se, partiu com simplicidade e bonomia, deixando no ambiente uma lição, uma grande lição, que ia depois ser melhormente traduzida por todos, e, muito especialmente, pelo Aloísio...


A seleção perceptiva, velha conhecida da psicologia e muito estudada nos últimos anos pelas neurociências, explica essa cegueira. Às vezes, a solução de um problema, ou algo que muito almejamos está próximo de nós, praticamente ao nosso lado, mas, por vaidade, não enxergamos e até desprezamos. Já vi isto acontecer com muitas pessoas, e já aconteceu comigo. É, a vaidade cega...

terça-feira, 9 de novembro de 2010

"É Tão Belo Como Um Sim Numa Sala Negativa"

Marcela (nome fictício neste caso real) tem cerca de 20 anos. Sua mãe era uma das nossas assistidas, assim como a avó que mora com elas. Moram juntos, também, dois irmãos mais novos da Marcela. Marcela ficou grávida. O namorado não assumiu e tanto a mãe, como a avó queriam que ela abortasse. Marcela resistia, queria o bebê.


Num dos sábados, meses atrás, Sílvia, Gil e eu fomos visitar Marcela, a mãe e a avó. Embora morem na região central, o local é longe da unidade da Sto. Amaro da FEESP, nossa base. Após uma boa caminhada, chegamos na casa delas. Batemos palmas, chamamos, nada. Já estávamos saindo, quando uma vizinha avisou-nos que elas não estavam: a mãe da Marcela havia falecido no dia anterior de um ataque do coração!


Sílvia entrou em contato mais tarde com Marcela e a avó que, ainda com a dor da separação, voltaram a frequentar as reuniões de apoio, buscando e obtendo consolação. Marcela continuava firme na decisão de ter o bebê. A avó contra, assim como alguns outros membros da família que moravam em outra cidade. Com o tempo, porém, a avó foi cedendo a contragosto.


O bebê chegou. E a avó se apaixonou. A vinda da criança mudou tudo, revolucionou a vida de todos na casa  modesta. Como escreveu o poeta João Cabral de Melo Neto, foi "tão belo como um sim numa sala negativa"! ("Vida e Morte Severina"). Trouxe nova vida, nova luz a todos na casa! Todos estão mais ativos, mais dinâmicos, mais otimistas! 


O nascimento do bebê atuou nesta família como o nascimento da criança no  poema "Vida e Morte Severina" (que virou peça de teatro e depois filme) do qual reproduzo um belo trecho abaixo - "Falam os vizinhos, amigos, pessoas que trouxeram presentes etc.":


"De sua formosura 
deixai-me que diga:
é belo como o coqueiro
que vence a areia marinha.

De sua formosura
deixai-me que diga:
belo como o avelós
contra o Agreste de cinza.

De sua formosura
deixai-me que diga:
belo como a palmatória
na caatinga sem saliva.



De sua formosura
deixai-me que diga:
é tão belo como um sim
numa sala negativa.

é tão belo como a soca
que o canavial multiplica.

Belo porque é uma porta
abrindo-se em mais saídas.





Belo como a última onda
que o fim do mar sempre adia.

é tão belo como as ondas
em sua adição infinita.

Belo porque tem do novo 
a surpresa e a alegria.

Belo como a coisa nova
na prateleira até então vazia.

Como qualquer coisa nova
inaugurando o seu dia.

Ou como o caderno novo
quando a gente o principia.

E belo porque o novo
todo o velho contagia.

Belo porque corrompe 
com sangue novo a anemia.

Infecciona a miséria 
com vida nova e sadia.

Com oásis, o deserto,
com ventos, a calmaria."

Algumas Boas Notícias Sobre Nossos Assistidos

Sílvia tem me informado sobre como vão alguns dos nosso assistidos. A seguir algumas das boas notícias: 


Dna. Ruth (vejam neste blog "Tratando um Trauma Psíquico", "A Primeira Sessão com Dna. Ruth" e "A Segunda Sessão com Dna. Ruth") está bem, estudando, lendo e apreciando vários livros da  pequena biblioteca que a Sílvia iniciou com livros mais dirigidos à população que atendemos (está sendo um sucesso!), participando dos grupos e mais ativa em casa e na atuação profissional. Graças a Deus!


Dna. Raquel (vejam "Colocando sua Luz sobre o Candeeiro") está bem, participando ativamente do grupo de apoio, lendo e gostando de livros da nossa pequena biblioteca e, além disto, influenciando positivamente, com suas palavras e exemplos, sua vizinha bem mais jovem que também está participando do grupo de apoio.


O filho de uma assistida, um garoto com 13 anos, com quem Sílvia e eu conversamos meses atrás, e que não queria saber de nada, nem concluir o fundamental, nem fazer um curso de informática na FEESP (de graça!), mudou sua atitude e se engajou tanto na escola, como no curso de informática. Agora, com 14 anos, está pleiteando um estágio. Graças a Deus!!!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Estresse Pós-Traumático e uma Feliz "Coincidência"

Sábado passado não visitei família alguma, mas atendi a uma mãe e sua filha de 14 anos que chamarei aqui de Joana. Sílvia telefonou-me dias antes para confirmar se eu iria neste sábado e para me falar do caso. A mãe é uma das nossas assistidas e eu já a conhecia, mas não a esta filha, que estava morando no Nordeste.


Joana sofreu, há cerca de 2 meses, uma forte experiência traumática. Estava com sintomas típicos de transtorno de estresse pós-traumático - medo de sair na rua sozinha, mesmo de dia, ansiedade constante, embotamento emocional, pensamentos e imagens intrusivas relacionadas ao acontecimento. E estava grávida de 2 meses...


Conversamos, a mãe, Joana e eu, num local reservado da Unidade Sto. Amaro da Federação Espírita do Estado de São Paulo, nossa base de trabalho. Pedi-lhes que contassem o ocorrido. A mãe começou e Joana, aos poucos, foi se soltando, falando também. E o quadro foi se  delineando... 


Muitas vezes, pessoas que tiveram uma experiência traumática evitam contá-la, por vergonha ou medo de reviver novamente algo muito dolorido física e emocionalmente. Isto tende a agravar o quadro. Guardar para si, sem desabafar, é pior. Ao contrário do que muitos pensam, deixar de falar sobre o acontecimento, não facilita esquecer a experiência traumática. A experiência traumática não elaborada assemelha-se a peças misturadas de um quebra-cabeça: a situação fica truncada na mente da pessoa. Ela não consegue integrar na sua mente nem os fatos e imagens, nem as emoções que experimentou na ocasião e aquelas que ainda está vivenciando. 


Contar o acontecimento a alguém que a ouça com equilíbrio e empatia pode ajudar a pessoa começar a integrar o acontecimento na sua mente, montando o quebra-cabeça de uma maneira que o acontecido faça sentido para ela. Se a pessoa tiver uma religião ou filosofia que dá a ela um significado maior para a sua vida, suas  tragédias e sucessos, e na qual tem fé e vivencia com profundidade, então poderá ser mais fácil a esta pessoa atribuir um significado ao acontecimento traumático que faça sentido para sua razão e emoções.


A mãe, que vive com a outra filha menor, tem desenvolvido esta visão mais abrangente da vida, freqüentando um dos grupos de apoio para mães e grávidas coordenado pela Sílvia e no qual, eventualmente, visito para conversas sobre temas variados com as participantes. Joana tem algumas crenças religiosas que lhe dá suporte na vida. Percebi que estas crenças, embora simples, até rudimentares, poderiam ser estimuladas e reforçadas, contribuindo assim para a elaboração e possível superação do trauma.


Após Joana e a mãe contarem-me o acontecimento, expliquei a ela e à mãe que a levaria a revivenciar o ocorrido para ajudá-la a superá-lo. Seria sofrido, mas ao final ela ficaria bem. Concordaram. Levei Joana, então, a um estado mais profundo de consciência e a revivenciar sensações, emoções e pensamentos que teve na ocasião do evento traumático. Foi algo muito forte. Joana chorou várias vezes, soluçando convulsivamente, agarrando-se à mãe. Ajudei-a, então, a iniciar uma elaboração mais profunda do ocorrido, utilizando, como apoio, sua fé religiosa, integrando-a com os procedimentos cognitivos-comportamentais da Técnica Peres, levando-a a formular o que chamamos de "redecisão".


Após a aplicação de um procedimento de desprogramação das sensações e emoções negativas vivenciadas, fortaleci sua redecisão e a levei a encenar mentalmente uma situação na qual estaria aplicando naturalmente a redecisão tomada. No final, Joana estava bem, aliviada e tranquila.


Combinei com ela e a mãe que faríamos uma sessão de integração e programação positiva no próximo sábado.


Voltando à sala da Sílvia, esta estava conversando com uma moça simpática: era a médica ginecologista que atende também voluntariamente às gestantes assistidas pela Sílvia. Já me falara da médica e eu queria conhecê-la, mas os dias em que atuamos como voluntários são diferentes e ainda não nos havíamos encontrado. Ela passara lá inesperadamente, por puro "acaso"... Conversamos e lhe contei do caso da menina Joana. Prontificou-se em acompanhar o caso de perto e orientar Joana e sua mãe. Feliz coincidência...

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Casos do Chico - A Importância da Persistência

       Às vezes, nos engajamos num trabalho benemérito com companheiros de ideal. Mas, com o passar do tempo, muitos se afastam, alguns por motivos justos, outros nem tanto... Nesses momentos, podemos nos sentir sozinhos e desanimados... Este caso do Chico nos lembra a importância da persistência!
(Fonte: revista Galileu História, Outubro 2006, no. 8).
SOLIDÃO APARENTE

o jovem Chico psicografando
       Em meados de 1932, o “Centro Espírita Luiz Gonzaga” estava reduzido a um quadro de cinco pessoas, José Hermínio Perácio, D. Carmen Pena Perácio, José Xavier, D. Geni Pena Xavier e o Chico.
       Os doentes e obsidiados surgiram sempre, mas, logo depois das primeiras melhoras, desapareciam como por encanto.
Perácio e senhora, contudo, precisavam transferir-se para Belo Horizonte por impositivos da vida familiar.
       O grupo ficou limitado a três companheiros.
       D. Geni, porém, a esposa de José Xavier, adoeceu e a casa passou a contar apenas com os dois irmãos.
       José, no entanto, era seleiro e, naquela ocasião, foi procurado por um credor que lhe vendia couros, credor esse que insistia em receber-lhe os serviços noturnos, numa oficina de arreios, em forma de pagamento.
Por isso, apesar de sua boa vontade, necessitava interromper a freqüência ao grupo, pelo menos, por alguns meses.
       Vendo-se sozinho, o Médium também quis ausentar-se.
Mas, na primeira noite, em que se achou a sós no Centro, sem saber como agir, Emmanuel apareceu-lhe e disse: "Você não pode afastar-se. Prossigamos em serviço".
       "Continuar como? Não temos freqüentadores..."
       "E nós?", disse o espírito amigo. "Nós também precisamos ouvir o Evangelho para reduzir nossos erros. E, além de nós, temos aqui numerosos desencarnados que precisam de esclarecimento e consolo. Abra a reunião na hora regulamentar, estudemos juntos a lição do Senhor, e não encerre a sessão antes de duas horas de trabalho".
       Foi assim que, por muitos meses, de 1932 a 1934, o Chico abria o pequeno salão do Centro e fazia a prece de abertura, às oito da noite em ponto.
       Em seguida, abria o “Evangelho Segundo o Espiritismo”, ao acaso e lia essa ou aquela instrução, comentando-a em voz alta.
Por essa ocasião, a vidência nele alcançou maior lucidez. Via e ouvia dezenas de almas desencarnadas e sofredoras que iam até o grupo, à procura de paz e refazimento. Escutava-lhes as perguntas e dava-lhes respostas sob a inspiração direta de Emmanuel.
       Para os outros, no entanto, orava, conversava e gesticulava sozinho...
       E essas reuniões de um Médium a sós com os desencarnados, no Centro, de portas iluminadas e abertas, se repetiam todas as noites de segundas e sextas-feiras.

Vencendo a Depressão pela Prática do Bem

Pela segunda vez, visitamos uma família composta da mulher, Lúcia (os nomes são fictícios, mas o caso é real), o marido e três filhos: Sofia, a maior, com 16 anos, um garoto de cerca de 6 anos e uma garotinha de 1 ano e pouco. Moram todos num cômodo (com no máximo uns 8 metros quadrados), sem divisória interna, num cortiço onde moram outras famílias assistidas.

Quando chegamos, Lúcia nos recebeu com um sorriso amplo e acolhedor, dizendo "Deus que enviou vocês!" e parecendo aliviada com nossa visita inesperada (as famílias sabem que serão visitadas, mas não em qual sábado iremos).

A lição do Evangelho de hoje que Gil havia aberto "ao acaso", na nossa prece inicial na Sto. Amaro, era o trecho do Evangelho de Mateus (cap. 6, versículos 1 a 4), sobre fazer o bem sem ostentação e sem esperar gratidão, do qual reproduzo os versículos 2 a 4:

"Quando, pois, dás esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam sua recompensa. Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita; assim a tua esmola se fará em segredo, e teu Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á."

A lição caiu como uma luva para Lúcia. Ela estava triste e ansiosa por causa de ingratidões de pessoas a quem muito ajudara. Sílvia a conhece bem e me diz que Lúcia ajuda muito o próximo, não apenas os vizinhos do cortiço onde mora, mas até de outros. Lembro-me que, quando a visitamos, ela havia acabado de entregar à vizinha o filho pequeno desta, que cuidara enquanto a mãe havia saído e não o pudera levar. E fizera isto espontaneamente, sem pagamento, oferecendo-se para ajudar ao perceber a necessidade da vizinha.

Lúcia ajuda até mesmo em situações difíceis para ela, como foi um caso ocorrido há cerca de dois anos. Nessa ocasião, uma vizinha idosa passou muito mal e Lúcia a atendeu. Quando estava com a idosa, esta faleceu. Lúcia, então, tomou as providências necessárias para o encaminhamento do corpo, o atestado de óbito e o enterro. E, na época, tinha muito medo de defuntos...! Este caso ilustra bem a sua personalidade.

Foi pouco depois deste caso que Lúcia procurou o programa de assistência social da FEESP, incentivada por amigas que já estavam participando do programa. Chegou lá com muito medo de "ver espíritos", algo para ela algo tão amedrontador como defuntos, ou até mais. Participando do programa, aprendendo e participando nos grupos de apoio e orientação, começou a entender melhor tudo isto e a perder esses medos.

No diálogo a partir da leitura do trecho do Evangelho, expôs as suas mágoas e frustrações, e nós, Sílvia, Gil e eu, procuramos ajudá-la a compreender os acontecimentos à luz do Evangelho. Conversando em cima da realidade em que ela vive, lembrando-lhe que seu amor ao próximo era parte essencial do que ela era, da sua alegria, disposição em ajudar e da força que a ajudava a superar constante a depressão que muitas vezes a ameaça.

No decorrer da conversa, Lúcia foi se libertando das mágoas, sentindo-se mais aliviada, mais livre. Por suas manifestações, pelo que falava, percebemos que havia compreendido profundamente a lição do Evangelho, que caíra como um bálsamo no sua alma angustiada.

Durante todo o Evangelho, Sofia, sua filha mais velha, permaneceu calada, mas com um lindo e tranquilo sorriso iluminando seu rosto e o ambiente à sua volta. Sofia sofre, desde muito pequena, de Poliomelite (paralisia infantil), que atrofiou ambas as pernas, pés e parcialmente as mãos, mas sua mente é lúcida. Na ocasião anterior em que lá estivemos, Sofia conversou conosco, sempre otimista e com seu lindo sorriso. Neste sábado agora, permaneceu silenciosa, mas com uma vibração tranquila e apoiadora.

Lúcia sofre de transtorno depressivo recorrente (depressão) e está tomando antidepressivos. Vendo, porém, sua força, seu amor e disposição em ajudar o próximo, a alegria e simpatia de Sofia e da filhinha menor, senti-me pequeno. E pensei também em pessoas que conheço, com boas condições financeiras e sociais, apoio familiar, inteligência, cultura, que se queixam de depressão, tomam os antidepressivos mais avançados (e caros), fazem terapia, mas acham que não estão preparadas para ajudar o próximo. Não aprenderam (ou talvez tenham se esquecido) que a grande terapia para a depressão é "sair de si mesmo" ajudando o próximo.

Isto não quer dizer que o transtorno depressivo seja algo ilusório. As pesquisas científicas mostram que depressão tem raízes tanto orgânicas como comportamentais. Mas, tenho aprendido, na vida e pela prática clínica, que o trabalho voluntário de ajuda ao próximo, feito com boa vontade, é um dos medicamentos mais eficazes (talvez o mais) no combate à depressão.

A Segunda Sessão com Dna. Ruth

       Dna. Ruth, conforme havíamos combinado, veio hoje à Sto. Amaro para mais uma sessão (clique aqui e veja a 1a. sessão). Está se sentindo bem melhor, disse. Seu sorriso franco e o semblante mais tranqüilo confirmam suas palavras.

       Durante a semana, em momentos nos quais a lembrança do filho voltava com mais intensidade, lembrava-se da decisão positiva que tomou na sessão anterior - "estou tranquila com Jesus no coração" - e isto a acalmava.

       Teve um sonho com o filho. No sonho, estava lavando roupa num tanque, roupa muito suja e "dela saía uma água escura...". Ouve um telefone tocar e sente a presença do filho próximo a ela. Ele lhe diz que João, seu tio (irmão da dna. Ruth), estava ao telefone, querendo falar com ela. Dna. Ruth sobe as escadas para o quarto, onde está o telefone. Mas, ao chegar, o telefone desliga. Perguntei-lhe o que sentia (intuia) que seu irmão queria: se lhe pedir algo, oferecer algo, ou apenas manter contato. Dna. Ruth acha João um bom homem, mas pouco ligado na família. No sonho, sentiu que ele queria apenas manter contato com ela.

       Conversando, analisamos em conjunto o sonho. Ficou claro que a roupa suja tinha a ver com o seu trabalho de auto-renovação. Afinal, quando lavamos uma roupa, a estamos renovando, purificando. Interessante que, o trecho do Evangelho Segundo o Espiritismo que o Gil abriu hoje "ao acaso" foi a parábola da festa de núpcias, na qual Jesus faz a analogia do Reino dos Céus com a festa de núpcias do filho de um rei (cap. XVIII, item 1). Nesta parábola, após os primeiros convidados desperdiçarem a valiosa oportunidade e arcarem com as consequências disto (ação e reação), são convidados todos os demais para as núpcias. O Rei, chegando ao jantar de núpcias, percebe que um dos convidados está sem as vestes apropriadas para o evento nupcial e o interroga. O convidado não consegue se justificar e o Rei, então, manda que o expulsem.

       Dna. Ruth não participou da breve prece inicial que fizemos, como sempre, antes de iniciarmos o trabalho. Mas, esta parábola tem muito a ver com seu sonho. Neste, ela estava purificando suas vestes, lavando as "sujeiras internas" das mágoas, do remorso paralizante, da tristeza, dos pensamentos negativos, e as "sujeiras externas", atraídas por suas atitudes negativas, emitidas por encarnados e/ou desencarnados que se sintonizaram com tais atitudes. Renovando seus pensamentos e sentimentos, ela está se preparando para entrar em contato com vibrações de planos espirituais mais elevados, mais positivos. De fato, sua melhora mostra que já está começando a entrar numa sintonia melhor.

       O sonho ensina mais: o telefonema do irmão de bom coração (segundo ela o descreve), mas pouco ligado à família, mostra à dna. Ruth que no processo de renovação de suas atitudes, renovar o contato com os demais membros da família (a de sangue e também a família mais ampla) também é importante para ser admitida na festa nupcial, para sentir-se mais em paz. Um dos sintomas frequentes do Transtorno de Estresse Pós-Traumático é a tendência ao isolamento. No sonho, ela estava sendo chamada (o telefone toca insistentemente) à vida, para se relacionar, ajudar e ser ajudada, colaborar com os outros e, assim, consigo mesma. E quem a alerta sobre este chamado? Seu filho desencarnado que morreu tentando protege-la e que ainda tenta ajudá-la.

A Primeira Sessão com Dna. Ruth

     Neste sábado, o Gil não veio, foi para o Rio votar e ver a filha. Mas, excepcionalmente veio o Marcos, nosso companheiro que participa do trabalho com a Sílvia às quartas. Quando pode, vem nos ajudar no sábado.

     Íamos começar a prece inicial que fazemos antes das visitas, quando dna. Ruth chegou.  Dna. Ruth é aquela senhora sobre a qual escrevi no dia 19 deste mês, com o título "Tratando um Trauma Psíquico". Solicitamos que esperasse um pouco e, após a prece, chamei-a para conversarmos, enquanto Sílvia e Marcos saiam para visitar as famílias.

COMEÇANDO A SESSÃO

     Dna. Ruth estava se sentindo melhor, desde nossa breve sessão do penúltimo sábado. Já checara suas condições físicas e estava tranquilo sobre isto. Expliquei-lhe o que íamos fazer, e que ali estava espiritualmente protegida. Ela, mostrando ter entendido, concordou.

REVIVENDO O EVENTO TRAUMÁTICO

     Iniciei pedindo que contasse o trágico episódio que viveu há dois anos, quando o filho fora assassinado na sua frente. Contou, emocionada. Em seguida, pedi que fechasse os olhos e a induzi, por meio de rápido relaxamento, a aprofundar seu nível de consciência. Num nível mais profundo de consciência, conduzi-a a reviver o evento traumático.

     Reviver a situação traumática é uma das técnicas mais eficazes para tratar o Transtorno de Estresse Pós-Traumático. O reviver é diferente do apenas recordar. Implica em se sentir novamente na situação, revivendo as emoções, sensações físicas e pensamentos que teve então. Por isto, deve ser feito apenas por psicólogos ou psiquiatras devidamente habilitados e experientes, caso contrário poderá fazer mais mal do que bem.

     Revivendo a situação e a narrando, dna. Ruth foi se comovendo cada vez mais. À medida em que revivia o acontecido, as lágrimas desciam silenciosas por suas faces, e a voz, a expressão facial, a respiração mostravam as intensas emoções que estava sentindo: raiva, medo, tristeza, culpa, ansiedade e angústia. Agora surgiam importantes detalhes que não haviam aparecido na sua narração em estado de virgília. Esses detalhes mostravam as razões dela se sentir culpada pelo assassinato do filho.

O MOMENTO MAIS TRAUMÁTICO

     Aprofundando a vivência, conduzi-a a identificar o momento que percebeu como o mais traumático. Havia sido o momento no qual, na rua, em plena luz do dia, o agressor enfia a faca na coxa do filho, atingindo a artéria femoral. O rapaz caminha cambaleante, até que cai. Ela senta-se no chão, coloca a cabeça do filho no colo e, tentando inutilmente com as mãos conter a intensa hemorragia, grita por ajuda: que alguém chame a polícia, uma ambulância! Vizinhos que presenciam a cena mobilizam-se e, em minutos chega a polícia, seguida pela ambulância. Mas já é tarde. Seu filho não resiste, morre ao chegar no hospital. O assassino fugiu.

ELABORAÇÃO DA VIVÊNCIA

     O processo de elaboração da vivência traumática é uma das partes fundamentais deste processo terapêutico. E é muito facilitado se o paciente tem alguma fé religiosa mais profunda. É o caso da dna. Ruth que, desde o acontecimento, vem se tratando espiritualmente e está cursando o 1o. Básico da FEESP. Mobilizando sua fé em Jesus, seu conhecimento espírita na reencarnação e no carma como processo de resgate e aprendizagem, ajudei-a a começar a elaboração do acontecimento e formular uma decisão positiva que a auxilie na libertação das intensas emoções, sensações e pensamentos negativos que vivenciou.

    Esta foi a decisão formulada e que lhe trouxe alívio no momento: "Estou tranqüila, com Jesus no coração". Isto para ela significa manter a tranquilidade quando insultada ou agredida, mantendo-se firme, mas não revidando ao ódio com mais ódio, pois Dna. Ruth está começando a compreender que isto pode levar a tragédias irreparáveis. E que esta é a melhor homenagem e reparação que pode prestar a seu filho desencarnado, além de servir de exemplo positivo para o seu filho mais novo.

FINALIZAÇÃO

       Em seguida, após o fortalecimento da decisão tomada, ajudei-a na simulação mental de uma cena num futuro próximo em que ela estaria, diante de uma agressão verbal, colocando em prática com naturalidade a decisão positiva. Finalizando, conduzi-a de volta ao estado normal de vigília. Dna. Ruth estava bem, aliviada. Combinamos, para o próximo sábado, uma sessão mais breve, de acompanhamento e reforço da decisão positiva.

     Um Transtorno de Estresse Pós-Traumático não é sanado numa única sessão. São necessárias algumas, num número que varia de pessoa para pessoa, de caso para caso. Porém, como havia comentado dia 19/09/2010, quando o processo terapêutico é apoiado vibratoriamente por pessoas de boa vontade, no contexto de um trabalho de ajuda, os resultados positivos tendem a ocorrer mais rapidamente.