sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Casos do Chico - A Importância da Persistência

       Às vezes, nos engajamos num trabalho benemérito com companheiros de ideal. Mas, com o passar do tempo, muitos se afastam, alguns por motivos justos, outros nem tanto... Nesses momentos, podemos nos sentir sozinhos e desanimados... Este caso do Chico nos lembra a importância da persistência!
(Fonte: revista Galileu História, Outubro 2006, no. 8).
SOLIDÃO APARENTE

o jovem Chico psicografando
       Em meados de 1932, o “Centro Espírita Luiz Gonzaga” estava reduzido a um quadro de cinco pessoas, José Hermínio Perácio, D. Carmen Pena Perácio, José Xavier, D. Geni Pena Xavier e o Chico.
       Os doentes e obsidiados surgiram sempre, mas, logo depois das primeiras melhoras, desapareciam como por encanto.
Perácio e senhora, contudo, precisavam transferir-se para Belo Horizonte por impositivos da vida familiar.
       O grupo ficou limitado a três companheiros.
       D. Geni, porém, a esposa de José Xavier, adoeceu e a casa passou a contar apenas com os dois irmãos.
       José, no entanto, era seleiro e, naquela ocasião, foi procurado por um credor que lhe vendia couros, credor esse que insistia em receber-lhe os serviços noturnos, numa oficina de arreios, em forma de pagamento.
Por isso, apesar de sua boa vontade, necessitava interromper a freqüência ao grupo, pelo menos, por alguns meses.
       Vendo-se sozinho, o Médium também quis ausentar-se.
Mas, na primeira noite, em que se achou a sós no Centro, sem saber como agir, Emmanuel apareceu-lhe e disse: "Você não pode afastar-se. Prossigamos em serviço".
       "Continuar como? Não temos freqüentadores..."
       "E nós?", disse o espírito amigo. "Nós também precisamos ouvir o Evangelho para reduzir nossos erros. E, além de nós, temos aqui numerosos desencarnados que precisam de esclarecimento e consolo. Abra a reunião na hora regulamentar, estudemos juntos a lição do Senhor, e não encerre a sessão antes de duas horas de trabalho".
       Foi assim que, por muitos meses, de 1932 a 1934, o Chico abria o pequeno salão do Centro e fazia a prece de abertura, às oito da noite em ponto.
       Em seguida, abria o “Evangelho Segundo o Espiritismo”, ao acaso e lia essa ou aquela instrução, comentando-a em voz alta.
Por essa ocasião, a vidência nele alcançou maior lucidez. Via e ouvia dezenas de almas desencarnadas e sofredoras que iam até o grupo, à procura de paz e refazimento. Escutava-lhes as perguntas e dava-lhes respostas sob a inspiração direta de Emmanuel.
       Para os outros, no entanto, orava, conversava e gesticulava sozinho...
       E essas reuniões de um Médium a sós com os desencarnados, no Centro, de portas iluminadas e abertas, se repetiam todas as noites de segundas e sextas-feiras.

Vencendo a Depressão pela Prática do Bem

Pela segunda vez, visitamos uma família composta da mulher, Lúcia (os nomes são fictícios, mas o caso é real), o marido e três filhos: Sofia, a maior, com 16 anos, um garoto de cerca de 6 anos e uma garotinha de 1 ano e pouco. Moram todos num cômodo (com no máximo uns 8 metros quadrados), sem divisória interna, num cortiço onde moram outras famílias assistidas.

Quando chegamos, Lúcia nos recebeu com um sorriso amplo e acolhedor, dizendo "Deus que enviou vocês!" e parecendo aliviada com nossa visita inesperada (as famílias sabem que serão visitadas, mas não em qual sábado iremos).

A lição do Evangelho de hoje que Gil havia aberto "ao acaso", na nossa prece inicial na Sto. Amaro, era o trecho do Evangelho de Mateus (cap. 6, versículos 1 a 4), sobre fazer o bem sem ostentação e sem esperar gratidão, do qual reproduzo os versículos 2 a 4:

"Quando, pois, dás esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam sua recompensa. Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita; assim a tua esmola se fará em segredo, e teu Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á."

A lição caiu como uma luva para Lúcia. Ela estava triste e ansiosa por causa de ingratidões de pessoas a quem muito ajudara. Sílvia a conhece bem e me diz que Lúcia ajuda muito o próximo, não apenas os vizinhos do cortiço onde mora, mas até de outros. Lembro-me que, quando a visitamos, ela havia acabado de entregar à vizinha o filho pequeno desta, que cuidara enquanto a mãe havia saído e não o pudera levar. E fizera isto espontaneamente, sem pagamento, oferecendo-se para ajudar ao perceber a necessidade da vizinha.

Lúcia ajuda até mesmo em situações difíceis para ela, como foi um caso ocorrido há cerca de dois anos. Nessa ocasião, uma vizinha idosa passou muito mal e Lúcia a atendeu. Quando estava com a idosa, esta faleceu. Lúcia, então, tomou as providências necessárias para o encaminhamento do corpo, o atestado de óbito e o enterro. E, na época, tinha muito medo de defuntos...! Este caso ilustra bem a sua personalidade.

Foi pouco depois deste caso que Lúcia procurou o programa de assistência social da FEESP, incentivada por amigas que já estavam participando do programa. Chegou lá com muito medo de "ver espíritos", algo para ela algo tão amedrontador como defuntos, ou até mais. Participando do programa, aprendendo e participando nos grupos de apoio e orientação, começou a entender melhor tudo isto e a perder esses medos.

No diálogo a partir da leitura do trecho do Evangelho, expôs as suas mágoas e frustrações, e nós, Sílvia, Gil e eu, procuramos ajudá-la a compreender os acontecimentos à luz do Evangelho. Conversando em cima da realidade em que ela vive, lembrando-lhe que seu amor ao próximo era parte essencial do que ela era, da sua alegria, disposição em ajudar e da força que a ajudava a superar constante a depressão que muitas vezes a ameaça.

No decorrer da conversa, Lúcia foi se libertando das mágoas, sentindo-se mais aliviada, mais livre. Por suas manifestações, pelo que falava, percebemos que havia compreendido profundamente a lição do Evangelho, que caíra como um bálsamo no sua alma angustiada.

Durante todo o Evangelho, Sofia, sua filha mais velha, permaneceu calada, mas com um lindo e tranquilo sorriso iluminando seu rosto e o ambiente à sua volta. Sofia sofre, desde muito pequena, de Poliomelite (paralisia infantil), que atrofiou ambas as pernas, pés e parcialmente as mãos, mas sua mente é lúcida. Na ocasião anterior em que lá estivemos, Sofia conversou conosco, sempre otimista e com seu lindo sorriso. Neste sábado agora, permaneceu silenciosa, mas com uma vibração tranquila e apoiadora.

Lúcia sofre de transtorno depressivo recorrente (depressão) e está tomando antidepressivos. Vendo, porém, sua força, seu amor e disposição em ajudar o próximo, a alegria e simpatia de Sofia e da filhinha menor, senti-me pequeno. E pensei também em pessoas que conheço, com boas condições financeiras e sociais, apoio familiar, inteligência, cultura, que se queixam de depressão, tomam os antidepressivos mais avançados (e caros), fazem terapia, mas acham que não estão preparadas para ajudar o próximo. Não aprenderam (ou talvez tenham se esquecido) que a grande terapia para a depressão é "sair de si mesmo" ajudando o próximo.

Isto não quer dizer que o transtorno depressivo seja algo ilusório. As pesquisas científicas mostram que depressão tem raízes tanto orgânicas como comportamentais. Mas, tenho aprendido, na vida e pela prática clínica, que o trabalho voluntário de ajuda ao próximo, feito com boa vontade, é um dos medicamentos mais eficazes (talvez o mais) no combate à depressão.

A Segunda Sessão com Dna. Ruth

       Dna. Ruth, conforme havíamos combinado, veio hoje à Sto. Amaro para mais uma sessão (clique aqui e veja a 1a. sessão). Está se sentindo bem melhor, disse. Seu sorriso franco e o semblante mais tranqüilo confirmam suas palavras.

       Durante a semana, em momentos nos quais a lembrança do filho voltava com mais intensidade, lembrava-se da decisão positiva que tomou na sessão anterior - "estou tranquila com Jesus no coração" - e isto a acalmava.

       Teve um sonho com o filho. No sonho, estava lavando roupa num tanque, roupa muito suja e "dela saía uma água escura...". Ouve um telefone tocar e sente a presença do filho próximo a ela. Ele lhe diz que João, seu tio (irmão da dna. Ruth), estava ao telefone, querendo falar com ela. Dna. Ruth sobe as escadas para o quarto, onde está o telefone. Mas, ao chegar, o telefone desliga. Perguntei-lhe o que sentia (intuia) que seu irmão queria: se lhe pedir algo, oferecer algo, ou apenas manter contato. Dna. Ruth acha João um bom homem, mas pouco ligado na família. No sonho, sentiu que ele queria apenas manter contato com ela.

       Conversando, analisamos em conjunto o sonho. Ficou claro que a roupa suja tinha a ver com o seu trabalho de auto-renovação. Afinal, quando lavamos uma roupa, a estamos renovando, purificando. Interessante que, o trecho do Evangelho Segundo o Espiritismo que o Gil abriu hoje "ao acaso" foi a parábola da festa de núpcias, na qual Jesus faz a analogia do Reino dos Céus com a festa de núpcias do filho de um rei (cap. XVIII, item 1). Nesta parábola, após os primeiros convidados desperdiçarem a valiosa oportunidade e arcarem com as consequências disto (ação e reação), são convidados todos os demais para as núpcias. O Rei, chegando ao jantar de núpcias, percebe que um dos convidados está sem as vestes apropriadas para o evento nupcial e o interroga. O convidado não consegue se justificar e o Rei, então, manda que o expulsem.

       Dna. Ruth não participou da breve prece inicial que fizemos, como sempre, antes de iniciarmos o trabalho. Mas, esta parábola tem muito a ver com seu sonho. Neste, ela estava purificando suas vestes, lavando as "sujeiras internas" das mágoas, do remorso paralizante, da tristeza, dos pensamentos negativos, e as "sujeiras externas", atraídas por suas atitudes negativas, emitidas por encarnados e/ou desencarnados que se sintonizaram com tais atitudes. Renovando seus pensamentos e sentimentos, ela está se preparando para entrar em contato com vibrações de planos espirituais mais elevados, mais positivos. De fato, sua melhora mostra que já está começando a entrar numa sintonia melhor.

       O sonho ensina mais: o telefonema do irmão de bom coração (segundo ela o descreve), mas pouco ligado à família, mostra à dna. Ruth que no processo de renovação de suas atitudes, renovar o contato com os demais membros da família (a de sangue e também a família mais ampla) também é importante para ser admitida na festa nupcial, para sentir-se mais em paz. Um dos sintomas frequentes do Transtorno de Estresse Pós-Traumático é a tendência ao isolamento. No sonho, ela estava sendo chamada (o telefone toca insistentemente) à vida, para se relacionar, ajudar e ser ajudada, colaborar com os outros e, assim, consigo mesma. E quem a alerta sobre este chamado? Seu filho desencarnado que morreu tentando protege-la e que ainda tenta ajudá-la.

A Primeira Sessão com Dna. Ruth

     Neste sábado, o Gil não veio, foi para o Rio votar e ver a filha. Mas, excepcionalmente veio o Marcos, nosso companheiro que participa do trabalho com a Sílvia às quartas. Quando pode, vem nos ajudar no sábado.

     Íamos começar a prece inicial que fazemos antes das visitas, quando dna. Ruth chegou.  Dna. Ruth é aquela senhora sobre a qual escrevi no dia 19 deste mês, com o título "Tratando um Trauma Psíquico". Solicitamos que esperasse um pouco e, após a prece, chamei-a para conversarmos, enquanto Sílvia e Marcos saiam para visitar as famílias.

COMEÇANDO A SESSÃO

     Dna. Ruth estava se sentindo melhor, desde nossa breve sessão do penúltimo sábado. Já checara suas condições físicas e estava tranquilo sobre isto. Expliquei-lhe o que íamos fazer, e que ali estava espiritualmente protegida. Ela, mostrando ter entendido, concordou.

REVIVENDO O EVENTO TRAUMÁTICO

     Iniciei pedindo que contasse o trágico episódio que viveu há dois anos, quando o filho fora assassinado na sua frente. Contou, emocionada. Em seguida, pedi que fechasse os olhos e a induzi, por meio de rápido relaxamento, a aprofundar seu nível de consciência. Num nível mais profundo de consciência, conduzi-a a reviver o evento traumático.

     Reviver a situação traumática é uma das técnicas mais eficazes para tratar o Transtorno de Estresse Pós-Traumático. O reviver é diferente do apenas recordar. Implica em se sentir novamente na situação, revivendo as emoções, sensações físicas e pensamentos que teve então. Por isto, deve ser feito apenas por psicólogos ou psiquiatras devidamente habilitados e experientes, caso contrário poderá fazer mais mal do que bem.

     Revivendo a situação e a narrando, dna. Ruth foi se comovendo cada vez mais. À medida em que revivia o acontecido, as lágrimas desciam silenciosas por suas faces, e a voz, a expressão facial, a respiração mostravam as intensas emoções que estava sentindo: raiva, medo, tristeza, culpa, ansiedade e angústia. Agora surgiam importantes detalhes que não haviam aparecido na sua narração em estado de virgília. Esses detalhes mostravam as razões dela se sentir culpada pelo assassinato do filho.

O MOMENTO MAIS TRAUMÁTICO

     Aprofundando a vivência, conduzi-a a identificar o momento que percebeu como o mais traumático. Havia sido o momento no qual, na rua, em plena luz do dia, o agressor enfia a faca na coxa do filho, atingindo a artéria femoral. O rapaz caminha cambaleante, até que cai. Ela senta-se no chão, coloca a cabeça do filho no colo e, tentando inutilmente com as mãos conter a intensa hemorragia, grita por ajuda: que alguém chame a polícia, uma ambulância! Vizinhos que presenciam a cena mobilizam-se e, em minutos chega a polícia, seguida pela ambulância. Mas já é tarde. Seu filho não resiste, morre ao chegar no hospital. O assassino fugiu.

ELABORAÇÃO DA VIVÊNCIA

     O processo de elaboração da vivência traumática é uma das partes fundamentais deste processo terapêutico. E é muito facilitado se o paciente tem alguma fé religiosa mais profunda. É o caso da dna. Ruth que, desde o acontecimento, vem se tratando espiritualmente e está cursando o 1o. Básico da FEESP. Mobilizando sua fé em Jesus, seu conhecimento espírita na reencarnação e no carma como processo de resgate e aprendizagem, ajudei-a a começar a elaboração do acontecimento e formular uma decisão positiva que a auxilie na libertação das intensas emoções, sensações e pensamentos negativos que vivenciou.

    Esta foi a decisão formulada e que lhe trouxe alívio no momento: "Estou tranqüila, com Jesus no coração". Isto para ela significa manter a tranquilidade quando insultada ou agredida, mantendo-se firme, mas não revidando ao ódio com mais ódio, pois Dna. Ruth está começando a compreender que isto pode levar a tragédias irreparáveis. E que esta é a melhor homenagem e reparação que pode prestar a seu filho desencarnado, além de servir de exemplo positivo para o seu filho mais novo.

FINALIZAÇÃO

       Em seguida, após o fortalecimento da decisão tomada, ajudei-a na simulação mental de uma cena num futuro próximo em que ela estaria, diante de uma agressão verbal, colocando em prática com naturalidade a decisão positiva. Finalizando, conduzi-a de volta ao estado normal de vigília. Dna. Ruth estava bem, aliviada. Combinamos, para o próximo sábado, uma sessão mais breve, de acompanhamento e reforço da decisão positiva.

     Um Transtorno de Estresse Pós-Traumático não é sanado numa única sessão. São necessárias algumas, num número que varia de pessoa para pessoa, de caso para caso. Porém, como havia comentado dia 19/09/2010, quando o processo terapêutico é apoiado vibratoriamente por pessoas de boa vontade, no contexto de um trabalho de ajuda, os resultados positivos tendem a ocorrer mais rapidamente.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Deixai Vir a Mim os Pequeninos

Fonte: blog.educacional.com.br
Sábado passado, eu estava num simpósio, por isto não pude participar das visitas às famílias. Mas Sílvia e Gil foram. Este caso, que me foi contado pela Sílvia, é de uma das famílias visitadas.

Nós já conhecíamos a família visitada, composta da mãe e seis crianças (!). Como a mãe não havia passado na Sto. Amaro para pegar a cesta básica, Sílvia decidiu visitá-la para saber o que ocorrera. Quando Sílvia e Gil chegaram no cômodo, a mãe não estava, estava fora, num trabalho de faxina que conseguira. As seis crianças estavam deitadas, apertando-se no chão do pequeno cômodo do cortiço. Sílvia e Gil, então, decidiram voltar à Sto. Amaro para trazer-lhes a cesta básica.

De volta ao cortiço, entregaram às crianças a cesta básica, orientando-as (principalmente à maior, de 12 anos) e as ajudando a guardar os saquinhos de leite fresco e a carne na pequena geladeira.

Fizeram com elas um rápido e simples Evangelho no Lar. Quando estavam saíndo, a menina de 2 anos, olhando na direção deles que já estavam à porta, falou com um sorriso: "Tchau, Jesus!".

Movendo-se para Melhorar

A 3a. família visitada é composta por um jovem casal com 3 crianças. As condições de moradia são das mais precárias que temos visto. Apesar de morarem num cortiço, o cômodo em que estão é separado dos demais por uma parede, tendo entrada independente. Esta separação física leva a um problema: a falta de banheiro. Embora tenham acesso a água, não têm privada. Suas necesidades são feitas em sacos de plástico que são jogados fora depois (e talvez alguns reaproveitados).
 
Morando em residências com banheiros, é difícil imaginarmos o que é uma vida como a desta família, morando num cômodo estreito com um pequeníssimo quintal. Contudo, não pareciam se sentir infelizes.

No Evangelho que fizemos, ambos participaram com entusiasmo. Os filhos maiores não estavam e o filho menor entrou e saiu por umas três vezes: estava brincando no pequeno quintal. Mas o casal mostrou bom ânimo o tempo todo que lá estivemos. 

Engraçado que na blusa dela estava escrito em inglês “move it”, que poderia ser traduzido por “movimente”, “mova-se”. Ela não sabia o que significava, mas estava se movimentando, ambos buscando melhorar.

Uma Lição de Alegria

A 2a. família que visitamos no último sábado era composta por Severina e um casal de filhos pequenos. Apesar do cômodo apertado onde vive com as crianças no cortiço precário, da filha convalescente de uma operação delicada, Severina irradia alegria. Segundo Sílvia, o temperamento habitual de Severina é este: alegre. À alegria, junta disposição: tem buscado evoluir, conseguir um melhor local para morar. Participa também ativamente das reuniões da Sto. Amaro, com boas contribuições às companheiras nos assuntos tratados.

Participou tranquila e ativamente do Evangelho no Lar que fizemos, contribuindo não apenas com palavras, mas também com boa vibração.
Pergunto-me se teria este ânimo, esta alegria, vivendo nas difíceis condições em que ela vive. Não sei... Mas sei que hoje recebi uma lição de alegria. Uma alegria tranquila e equilibrada que se irradia, criando uma aura de simpatia ao seu redor. Que Jesus a conserve sempre assim, Severina!

Vila Itororó

Conheci a Vila Itororó nas nossas visitas a famílias atendidas pela Área de Assistência Social Unidade Santo Amaro da FEESP. É um grande cortiço, com várias casas, tendo começado a ser ocupado informalmente, segundo algumas informações, há cerca de 60 anos. Alguns de seus moradores parecem acreditar que a vila pertencia à princesa Isabel.

Mas, de fato, ela começou a ser construída um ano após a morte da princesa (na Normandia - França, em 1921). Sua construção teria durado de 1922 a 1929. Seu nome vem do riacho do Vale itororó que abastecia sua piscina, a 1a. de S. Paulo.

Moram lá cerca de 70 famílias, muitas delas aparentadas entre si. É praticamente uma comunidade de pessoas que muitas vezes se apóia mutuamente. Algumas das famílias são atendidas por nós.

Tratando um Trauma Psíquico

No último sábado (18/09/2010), Sílvia, Gil e eu visitamos mais 3 famílias. A 1a. era composta da mãe (que chamarei de dna. Ruth) e seu filho no final da adolescência, ambos morando num cortiço um pouco melhor do que a média daqueles que costumamos visitar.
O outro filho foi assassinado na frente da mãe. Isto aconteceu há dois anos, mas as lembranças da cena voltam constantemente à mente de dna. Ruth, deixando-a angustiada e deprimida, com reflexos negativos na sua alimentação e sono. Isto a tem debilitado. As orientações que recebe no grupo de apoio que frequenta durante a semana sob a coordenação da Sílvia, os tratamentos espirituais que fez e o 1o. ano do Preparatório que está cursando a estão ajudando, mas Sílvia achou que dna. Ruth precisava também de uma ajuda especializada.
Após o Evangelho, do qual dna. Ruth participou ativamente, mostrando sua vontade de melhorar, ela e eu nos sentamos para conversar, enquanto Sílvia e Gil ficaram afastados, num outro canto do cômodo, vibrando em sustentação.
Nadar num rio a favor da correnteza: é assim que costumo comparar a experiência de fazer atendimento psicológico dentro de um trabalho de assistência conduzido por pessoas de boa vontade de uma instituição espirita. Se a pessoa atendida estiver também em tratamento espiritual e/ou frequentando os trabalhos da instituição, os resultados tendem a aparecer muito mais rapidamente do que na clínica. No rio, quando damos uma braçada, vamos bem mais longe do que numa piscina, porque a correnteza facilita, carregando-nos. Da mesma forma, nesse tipo de trabalho, a sustentação espiritual feita pelos encarnados e pelos mentores espirituais funciona como uma correnteza de energia espiritual benéfica, aumentando o efeito do tratamento psicológico. É o que espero no caso de dna. Ruth.
Na sessão rápida e introdutória com dna. Ruth, o objetivo foi apenas prepará-la para algumas sessões que faremos na unidade da Sto. Amaro.

Após uma rápida oração espiritual, através de um diálogo orientei-a sobre como se preparar para o tratamento, em seguida a induzi a um relaxamento com visualização e sugestões positivas de fé e superação. Concluímos com uma oração de agradecimento. A sessão deve ter durado menos de 15 min., mas dna. Ruth sentiu-se muito bem e com melhor ânimo. Sei que os mentores amigos estavam ali nos ajudando e nos ajudarão neste tratamento.
A próxima sessão, já na Sto. Amaro, será apenas daqui a 15 dias, pois participarei de um Congresso no próximo sábado. Mas, no período até lá dna. Ruth terá o apoio da Sílvia e do grupo.

Superando o Trauma

Sílvia deu-me mais informações sobre o caso do rapaz (que chamarei de João, nome fictício como todos os que uso ao contar casos reais como este) que nos procurou quando estávamos nos despedindo da 2a. família (veja o caso abaixo datado de 15/09/2010). João é cunhado da dna. Raquel e, como já havia mencionado, mora no mesmo cortiço.

Estava em casa quando o filho de dna. Raquel a atacou com a barra de ferro. Ouvindo os gritos, correu para lá e presenciou dna. Raquel tentando fugir, gritando de dor e aflição, com o braço ensangüentado e o filho alucinado tentando matá-la. Com sua chegada, o filho distraiu-se por um momento e dna. Raquel conseguiu fugir para o cômodo da vizinha.

João ficou em em estado de choque com a cena que presenciou. Esta reação ao estresse vivenciado foi tão forte que teve de ser internado (é possível que a cena tenha despertado nele alguma memória traumática). Após a internação, começou a se interessar mais pelo Espiritismo, e sob a orientação da Sílvia, iniciou um tratamento espiritual. No momento que nos procurou, já estava bem melhor e sentindo-se pronto para dar mais um passo no seu autoaperfeiçoamento.

Colocando sua Luz sobre o Candeeiro

     A 2ª. família visitada no último sábado mora no mesmo cortiço da 1ª. família (veja narração sobre a 1a. família abaixo dos vídeos). No cômodo modesto moram a mãe (que vou chamar aqui de Dona Raquel, nome fictício, mas este caso é real, como todos os casos aqui narrados), com idade na faixa dos 50-60 anos, mas com aparência bem envelhecida, e o filho adulto. Antes morava com ela também outro filho, mais velho do que este.


      O filho mais velho vinha bebendo muito e se drogando, apesar dos esforços da mãe para que abandonasse esses vícios. Um dia, visivelmente drogado, pegou uma barra de ferro e partiu para cima de Dna. Raquel (o outro irmão não estava), gritando: “você matou a minha mãe! Você matou a minha mãe!” (memórias de uma vida passada?). Dna. Raquel, perplexa e aterrorizada, tentou se defender, mas a pancada atingiu o braço, quebrando-o. Sofrendo física e moralmente, ela conseguiu correr dele, refugiando-se numa vizinha. 

     O filho, após quebrar várias coisas no cômodo, cansou-se e adormeceu. Ao acordar, não se lembrava de nada. Contudo, a gravidade do acontecimento levou outros membros da família a forçarem-no a se mudar, sendo acolhido num sítio de familiares no interior do Nordeste.

     A semi-paralisia de alguns dedos da mão direita, além de uma feia cicatriz no braço, foram seqüelas físicas mais visíveis resultantes da agressão. Mas a seqüela emocional é também perceptível. Agravando o caso, o outro filho que mora com ela está também tomando drogas. Numa intensidade menor do que tomava o irmão, mas, sob a influência de um mau amigo, parece estar aumentando a freqüência do uso.

     Dna. Raquel, após ter passado por um período de desespero, está agora começando a reagir mais positivamente, como pudemos constatar nesta 2ª. visita que fizemos. Está começando a colocar sua candeia no alto, como ensina o trecho do Evangelho que lemos com ela e a ajudamos a refletir sobre a aplicação prática à sua vida nos momentos difíceis e no dia-a-dia.

     Está começando a acreditar mais na Luz Divina dentro de si, a qual a liga com o Poder Maior, a Bondade Suprema. Fortalecendo sua fé sustentada pelo acolhimento e orientações que recebe no grupo coordenado pela Sílvia que freqüenta durante a semana (na unidade da FEESP da rua Sto. Amaro), e pelos tratamentos espirituais que está fazendo para si e pelos filhos.

Buscando aprender

     Quando estávamos saindo, acompanhados até a porta pelas duas mães que visitáramos no cortiço, um rapaz, conhecido delas e morador do mesmo cortiço, nos abordou: queria fazer um curso na Federação e gostaria de saber como proceder para isto.

     Incentivamos sua iniciativa e ele nos disse, com jeito espontâneo, que achava o Espiritismo uma religião moderna e que, ao contrário de muitos, não tinha medo de espíritos, pois são como a gente. Sílvia já o conhecia e orientou-o. Percebi que parecia estar se formando, naquela velha casa, um pequeno e ainda incipiente núcleo de pessoas interessadas no Espiritismo, uma pequena chama de luz que poderia crescer...


Uma Lição de Fé

Obs.: A Imagem abaixo é ilustrativa de um cortiço típico, semelhante àqueles que visitamos. Foi obtida em http://cortico.pcc.usp.br/cris/afonso-f.htm
Hoje Sílvia e eu fomos visitar duas famílias carentes para a realização de Evangelho no Lar e apoio psicológico (o Gil havia ido ao Rio para o aniversário da filha).

A 1ª. família já havíamos visitado: uma mãe com três filhos e um marido alcoólatra, moradores num cortiço. Os cinco vivem num pequeno cômodo em que ela cozinha e guarda as roupas (não há armários). Como é típico destes cortiços, o tanque para lavagem das roupas e o banheiro são externos e partilhados por vários moradores.

Quando a visitamos na 1ª. vez, ela estava desanimada com o comportamento agressivo do marido com ela e as crianças, quando bebia, e as várias dificuldades que enfrentavam. Aquela visita parece tê-la animado, pois começou a participar mais das reuniões de grupos que Sílvia promove durante a semana, seguindo as orientações dadas.

Nunca avisamos previamente o dia exato em que iremos visitar o assistido. Sílvia avisa que visitaremos, mas não diz quando. Contudo, na visita de surpresa de hoje a diferença foi notável. Atendeu-nos com um sorriso animado, convidando-nos a entrar no cômodo modesto: estava muito bem arrumado e passava uma boa vibração. O marido não se encontrava, apenas a filhinha mais nova com um amiguinho, além do filho de 12 anos que estava de saída.

Fizemos o Evangelho no Lar, do qual ela participou ativamente, acompanhada pela filha e o amiguinho. Seus problemas continuavam, inclusive os comportamentos do marido. Mas sua atitude havia mudado: estava mais otimista, encarando com mais coragem e determinação seus problemas.

Interessante, Sílvia lembrou-me depois que saímos (ela tem uma memória de elefante!), que o trecho do “Evangelho Segundo o Espiritismo” que havíamos aberto ao acaso foi o mesmo que da 1ª. vez que a visitamos: o cap. XXIV – “Não Por a Candeia Debaixo do Alqueire”, do qual lemos e conversamos sobre os itens 1 e 2. Nas duas vezes, enfatizamos a mensagem crística da importância de confiar na luz divina que todos temos dentro de nós: a autoconfiança equilibrada com a confiança na bondade divina, no amor infinito de Deus por nós. E nossa assistida parece ter assimilado e estar praticando esta lição. Vendo isto, eu pensei em quantas boas lições ouvi, li e vivi, mas demorei tanto tempo para as assimilar e mais tempo ainda para as colocar em prática!

Eu estava fisicamente cansado hoje de manhã, com menos energia do que o normal, mas, quando terminamos, estava me sentido melhor, com mais energia e disposição. Sílvia também.

Uma Lição de Perdão

Em uma das sessões de Evangelho no Lar que fazemos ao sábado na casa de famílias carentes, Sílvia, Gil e eu fomos a um cortiço visitar um casal. Lá, após subirmos dois lances de precárias escadas de madeira, chegamos, guiados por uma moradora, a um apertado e quente cubículo que servia de quarto de dormir e cozinha (o banheiro, partilhado em comum com os demais moradores, era fora). Lá fomos recebidos por Maria (nome fictício, mas o caso é real) com seu bebê. Contou-nos que seu marido havia viajado para a cidade de que provinham, no Nordeste, e  que ela também estava se preparando para ir.

O trecho do Evangelho que havíamos aberto versava sobre o perdão. Após a leitura do pequeno trecho, como de costume Sílvia, Gil e eu falamos algumas palavras traduzindo a leitura em termos mais próximos a ela e lhe perguntamos o que o ensinamento de Jesus tinha a ver com a vida dela no dia-a-dia. Maria, então, nos contou uma experiência sua com o perdão que nos serviu como lição de vida.

Ela e o marido moravam numa confortável casa em sua cidade natal no interior do Nordeste, próximas a parentes e amigos. Sua cunhada, que há muito mudara-se para S. Paulo, estava gravemente doente, com câncer, e pedia ajuda.  O marido de Maria queria ajudar a irmã e também tentar a vida em S. Paulo. A irmã convidou-os a ficar com ela no seu apartamento e para cá vieram, apesar de Maria estar grávida. O marido conseguiu trabalho e Maria cuidava da cunhada. Mas, começaram a se desentender e a cunhada a pôs para fora da casa.

Sem dinheiro suficiente ou fiador para alugarem um apartamento, a solução que acharam foi virem para esse cubículo no cortiço. Para piorar, seu marido perdeu o emprego. Haviam deixado uma confortável situação na cidade natal, largando tudo para cuidar da irmã do marido e agora estavam nesta situação! A raiva de Maria era muita com o que via como uma grande ingratidão da cunhada! O tempo foi passando, começaram a se arranjar com "bicos" aqui e ali, e foram sobrevivendo.


O marido, preocupado com a irmã que piorava, não queria ainda voltar. A amargura de Maria se aprofundava. Por outro lado, o quadro clínico da cunhada agravou-se muito e os médicos avisaram que ela tinha pouquíssimo tempo de vida. O irmão a visitava no hospital, mas Maria não queria nem saber. Seu marido, sabiamente, lhe aconselhou a visitar e perdoar a cunhada, antes que morresse, mas Maria resistia.

Certo dia, porém, resolveu: foi ao hospital. Junto do leito da moribunda que, embora ainda consciente, já não falava, olhou nos olhos dela e lhe disse com sinceridade: "Eu perdôo você pelo que me fez e peço perdão também pelo que eu fiz e pela raiva que senti de você!" O olhar da cunhada parecia mostrar que compreendera e Maria se sentiu aliviada.


Embora tivesse sido muito difícil para ela, o que dissera fora de coração. Saiu do hospital sentindo-se mais leve. Dias depois a cunhada faleceu.
Após o enterro, resolveram voltar para a cidade natal. O marido partira primeiro e conseguira trabalho por lá. Agora ela estava se preparando para ir.  Reforçamos seu aprendizado e após recomendações da Sílvia sobre o bebê, fizemos a prece final e nos despedimos.

No caminho de volta (ela havia sido a última do dia a ser visitada), refletimos sobre o quanto ela aprendera com essa experiência paulistana.  Na cidadezinha no interior do NE em que movava, apesar da casa mais confortável e do apoio familiar, seus conhecimentos sobre maternidade, parto e cuidados de bebê eram muito precários e o conhecimento de seus parentes não ia mais longe. Aqui, aprendera muito sobre tudo isto e, participando do grupo das grávidas que a Sílvia coordena, havia recebido preciosas informações e apoio, tivera um parto sem problemas e havia aprendido coisas importantes sobre o cuidado e alimentação do bebê. Contudo, aprendera mais uma coisa igualmente importante: perdoar. E pelo que percebemos em suas palavras simples, de uma honestidade rude, a lição do perdão havia calado fundo em sua alma. E na nossa também...!

O Poder da Vibração Tranquila

Exemplo de cortiço como os que visitamos. Obtido em 
Sob a coordenação abnegada da Sílvia, visitamos aos sábados de manhã famílias carentes na região central de S. Paulo, como parte do trabalho social da unidade da rua Sto. Amaro da FEESP. Nessas visitas, conversamos com as famílias e fazemos, junto com elas, uma sessão de Evangelho no Lar. Uma das visitas de ontem foi num cortiço, onde, numa habitação de apenas um cômodo, uma jovem mãe cria sozinha uma filhinha de 3 anos.

A garotinha, muito esperta, estava querendo atenção que demos, mas, como é próprio da idade, poderia dificultar nossa conversa com a mãe. Gil, então, sorrindo, pegou na mãozinha da menina e acariciou sua cabeça. A menina ficou tranqüila e pudemos fazer nossa reunião tranqüilamente.