quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Um Guerreiro do Bom Combate

       Sílvia contou-me, sábado passado, sobre um dos nossos assistidos, que chamarei aqui de João.
       João foi abandonado pelos pais quando ainda bebê, sendo criado num orfanato público. Nunca chegou a ser adotado. Quando teve idade para sair do orfanato, trabalhou em várias atividades, sub-empregos, até começar como auxiliar de cozinha em restaurantes, função à qual se adaptou bem.
       Com  uma vida difícil, estudou apenas até o nível fundamental. Nos últimos anos, com quase 50 anos de idade, decidiu voltar a estudar.  
       Matriculou-se no ensino médio, à noite, tendo enfrentado inicialmente alguma gozação dos jovens colegas. Mas, sua dedicação e simplicidade conquistou-os e fez amigos. 
       Formou-se no ensino médio o passado e fez as provas do ENEM, tendo conquistado mais de 70% dos pontos possíveis! Com isso, está apto a ingressar em algumas faculdades, e a obter uma bolsa governamental, caso a faculdade seja particular. Pretende cursar hotelaria. 
       Sua persistência e simplicidade são uma lição de vida para tantos que, chegando a uma idade semelhante à dele, acham que não têm mais o que esperar da vida, que não tem mais chances e, por isso, desistem de lutar. Perdem a batalha sem ao menos travá-la.
       João é um guerreiro do bom combate, que é o verdadeiro combate, aquele no qual lutamos para superar nossas próprias deficiências intelectuais, emocionais e espirituais!

domingo, 16 de janeiro de 2011

O "Bom Combate" de uma Mãe

       Uma das visitas que fizemos sábado retrasado foi num cortiço, no qual mora uma família composta da mãe, o marido (que estava fora) e 4 crianças: a mais velha com cerca de 9 anos, em seguida um menino de 7 anos, uma garotinha de 3 anos e um bebê de 8 meses, com Síndrome de Down.


       A mãe, que chamarei aqui de Silvana, estava de cama, com uma gripe forte, já há dias. Mesmo assim, havia comparecido, como sempre, ao grupo de apoio durante a semana, sem se queixar. Levantou para nos receber e participou ativamente do Evangelho no Lar.


       Sua família quando soube, a partir dos exames pré-natais, que a criança que ela esperava tinha Síndrome de Down, quis forçá-la a abortar. Ela resistiu. O marido, alcoólico, rejeitou o bebê quando nasceu. A irmã insiste que ela doe a criança. Mas Silvana não desiste.


       Ela tem suas dificuldades, mas vem se desenvolvendo com a ajuda do grupo de apoio, com o qual se identifica. Nele tem recebido orientações da Sílvia e colaboradores sobre cuidados durante a gravidez, a amamentação, higiene e educação do bebê, além de proveitosa troca de idéias com outras mães. Sem contar a orientação espiritual cristã que, respeitando os credos espíritas, católicos, evangélicos e outros das participantes, dá a elas esclarecimentos e diretrizes para uma vida mais equilibrada, numa linguagem que elas entendem, que lhes fala de seus problemas do dia-a-dia e soluções práticas embasadas no Evangelho.


       O maiores são também muito conhecidos da Sílvia, porque frequentam assiduamente, com bom aproveitamento, a escolinha de música da unidade Santo Amaro da FEESP. Além de aprenderem música (violino e canto), também aprendem a rezar, como pude ver durante o Evangelho. Durante o diálogo, após a leitura do trecho do Evangelho, ficaram atentos, e estimulados a falar, os mais velhos deram suas opiniões infantis, mas pertinentes ao assunto. Na oração inicial e principalmente nas vibrações e oração final, mantiveram-se concentrados, de olhinhos fechados e com as palmas das mãos voltadas para cima. Mesmo o bebê manteve-se tranquilo o tempo todo, como se respeitando a ocasião. Comovente.


       Silvana tem travado o "bom combate", de que falava Paulo de Tarso ao discípulo e amigo Timóteo (II Tm 4:7), em defesa do bebê. Que Jesus a proteja e ilumine seus caminhos e de sua família!
       

domingo, 9 de janeiro de 2011

Semeando com Amor e Esperando com Fé

       Ontem recomeçaram nossos trabalhos de visita às famílias moradoras de cortiços no centro da cidade de São Paulo. Os trabalhos de apoio a essas famílias recomeçaram de fato na terça-feira passada (os grupos de apoio funcionam às terças, quintas e sextas-feiras).
       Sílvia pois-me a par da situação de algumas das famílias que conheço e ajudo no atendimento. Dentre várias, destaco o caso de dna. Ruth que está muito bem e auxiliando muito a Sílvia no apoio às famílias (para saber quem é dna. Ruth, veja, p. ex., a postagem "Libertando-se das Correntes do Ódio").
       Fizemos 4 visitas ontem. Começamos com o sr. Pedro (como habitual neste blog, o nome é fictício, mas o caso é real), morador de um modesto e pequeno hotel que faz parte de um dos programas de aluguel social da prefeitura (a prefeitura paga o aluguel da pessoa ou família carente por um determinado período de tempo).
       O sr. Pedro, com pouco mais de 50 anos, é alcoólico. Obtém dinheiro para sua alimentação e roupas por meio das latinhas que recolhe e vende para reciclagem. Fomos visitá-lo para verificar a possibilidade de incluí-lo no programa de assistência social da FEESP, não só para recebimento da cesta básica, mas também para a participação num dos grupos de apoio. Sílvia já o conhecia por contato anterior que ele havia tido com nosso programa e viu possibilidade de ajudá-lo a se reerguer.
       Tivemos um bom diálogo com o sr. Pedro, descobrindo que é funileiro, mas não consegue trabalhar na profissão em razão do alcoolismo. Sílvia enfatizou que se empenhasse na assistência espiritual da FEESP (palestras e passes específicos para alcoólicos), que ele já vem freqüentando, e o convidou a participar num dos grupos de apoio que ela coordena. Sugeri que, além disto, entrasse em contato com o Instituto Fraternal de Laborterapia (na rua Sto. Amaro 244, bem próximo à unidade da FEESP na mesma rua) e se inscrevesse no programa que eles têm de assistência e orientação a alcoólicos. Sílvia combinou, então, que o levaria até lá quando ele fosse na unidade da Sto. Amaro.
       Despedimo-nos com palavras de calor humano e incentivo, obtendo do sr. Pedro a promessa de ir nos compromissos e persistir.
       Contudo, conheço bem a realidade de alcoólicos e sei que, apesar de no momento fazerem promessas até sinceras de se empenharem em atividades para superar a dependência, muitas vezes desistem antes de obterem resultados mais concretos e/ou têm frequentes recaídas. Falei nisto com a Sílvia, quando saímos do modesto hotel. Ela me lembrou que nossa tarefa é semearmos com dedicação e amor, facilitando os resultados, mas estes são da responsabilidade de cada Espírito perante Deus.
       Pensando nos resultados que vínhamos obtendo com dna. Ruth e outros e no presente caso do sr. Pedro, recordei-me de uma passagem do livro "Os Mensageiros" de André Luiz, quando este se deslumbra com o bom resultado do passe de alívio que deu ao Espírito de uma senhora (Cap. 44 - Assistência) e Aniceto, seu orientador, o adverte delicadamente em voz baixa:
       "André, a excessiva contemplação dos resul­tados pode prejudicar o trabalhador. Em ocasiões como esta, a vaidade costuma acordar dentro de nós, fazendo-nos esquecer o Senhor. Não olvides que todo o bem procede d'Ele, que é a luz de nossos corações. Somos seus Instrumentos nas tarefas de amor. O servo fiel não é aquele que se inquieta pelos resultados, nem o que permanece enlevado na contemplação deles, mas justamente o que cumpre a vontade divina do Senhor e passa adiante."