quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Amai vossos inimigos, orai pelos que vos maltratam

A segunda visita que realizamos sábado passado foi para uma vizinha da Dna. Márcia, outra participante do programa de atendimento a famílias da FEESP. Vamos chamá-la aqui de Sônia.


Sônia vive com seu companheiro (o nome que daremos aqui a ele é Donizete) há anos e está com câncer. Donizete trabalha (talvez um termo melhor seria "batalha", pois é um batalhador!) como guardador de carros - "flanelinha" -, sustentando a ambos: pagando o aluguel da pensão, a alimentação (complementada pela cesta básica que recebe da FEESP) e outras despesas. O tratamento e remédios de Sônia são fornecidos pelo SUS e por programas do Governo do Estado.


O trecho do Evangelho Segundo o Espiritismo que usamos nas duas sessões de Evangelho no lar desse sábado foi o item 16 do capítulo XIII, "Que a Mão Esquerda Não Saiba o que Faz a Direita". O item 16 fala da possibilidade que todos temos de fazer caridade, de ajudar o próximo, independente da condição econômica, social ou de saúde.


Na reflexão sobre a leitura, conversamos sobre as várias formas pelas quais podemos ajudar alguém. Não apenas a ajuda material, mas coisas simples, como ouvir com atenção e empatia as preocupações do nosso próximo, contribuir com a palavra amiga e ponderada. Mesmo um sorriso pode desanuviar tensões, melhorando a disposição do outro, tornando-o mais receptivo à boa palavra.


Sônia acredita nesta caridade e procura praticá-la. Mas, fala também de como suas mágoas e revoltas dificultam esta prática de coração. Conversamos, então, sobre o mal que causamos a nós mesmos com as "ruminações" de mágoas e ressentimentos. Lembramos de que alimentar ressentimentos é como tomar veneno esperando que, com isso, "morra" a pessoa de quem nos ressentimos*


Eduardo e eu contribuímos nesta conversa, com nossas experiências de vida e conhecimentos, mas quero ressaltar hoje a contribuição específica da Leide.


Nossa companheira Leide (apelido carinhoso da Marileide) falou de sua experiência de vida na superação das mágoas. Dando seu sincero depoimento, Leide disse que, no passado, costumava guardar e alimentar muitas mágoas e ressentimentos. Entretanto, com os estudos e a prática espírita, aprendeu a superá-las. Para isto, começou a colocar em prática a recomendação de Jesus: "Tendes ouvido o que foi dito: 'Amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo'. Eu, porém, vos digo: Amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem." (Mateus, cap. 5, versículos 43 e 44). 


Começou, então, a praticar oração e a emissão de boas vibrações para as pessoas de quem estava ressentida. No início foi muito   difícil. Porém, insistiu. Aos poucos (pois ela teve que fazer este "exercício" espiritual muitas vezes), a mágoa e o ressentimento foram diminuindo, até chegarem ao ponto em que compreendia plenamente - de coração e mente - o que levou a pessoa a fazer ou dizer aquilo que a machucou, desculpando-a e se libertando, assim, dos sentimentos negativos (veja, neste sentido, "Libertando-se das Correntes do Ódio", neste blog).


A fala simples e sincera da Leide parece ter tocado fundo o coração da Sônia. O tempo dirá o quanto esta semente positiva criou raízes e se desenvolverá, gerando bons frutos...


Sônia foi também lembrada do tratamento espiritual que é feito na FEESP, especificamente para pessoas com câncer, e ficou animada, propondo-se a frequentar. 


Terminado o Evangelho, estávamos todos os cinco - Sônia, Donizete (que participou com opiniões sinceras e ponderadas) e nós três - muito bem, renovados. Saímos de lá com as afetuosas e sorridentes despedidas do casal.


No corredor de saída, passamos pelo quarto de Dna. Márcia, que estava de porta aberta nos esperando e fez questão, apesar dos nossos protestos, de nos conduzir até a porta da rua, apoiada na sua bengala, mas sorridente e alegre. Graças a Deus!


Novamente, saímos com mais do que entramos!...
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* Parafráse da fala de um dos personagens de Shakespeare, possivelmente na peça "A Tempestade", cujo tema trata de dor e reconciliação. É considerada por muitos como a última de sua autoria e uma obra prima.

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