sábado, 8 de outubro de 2011

Perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores

O tema do Evangelho no lar do último sábado foi do capítulo XVIII - I. Preces Gerais, Oração Dominical, com explicações sobre as frases do "Pai Nosso". Após a prece inicial de preparação para o trabalho de visitas, abrimos o Evangelho Segundo o Espiritismo (ESE) ao "acaso"*, caindo no item V: "Perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores".


Costumamos recitar as frases do Pai Nosso sem pensar no seu significado. Kardec, no ESE, reflete sobre cada frase desta oração, revelando a riqueza de ensinamentos que contem. A frase em questão, sobre o perdão, foi oportuna para aquela família.


A família visitada é composta do pai e sua filha de 12 anos. O pai, de meia idade, a cria desde quando ela tinha 4 anos de idade, época em que a mãe abandonou ambos. A tarefa de um pai sozinho (o chamaremos aqui de sr. Silva) criar uma menina não é simples. A mágoa, o ressentimento a respeito do abandono (que pode nos chocar, mas não julguemos!...) pode envenenar uma existência.  


Na conversa durante as reflexões a partir do trecho lido do ESE, o sr. Silva, dando sua opinião sobre a frase do Pai Nosso, diz que "coloca uma pedra em cima" de coisas que outras pessoas falam e fazem que o machucam. Faz isto para não ficar remoendo-as, sofrendo com isto. Assim, recupera a sua paz, paz que sabemos inviável naqueles que "ruminam" mágoas e ressentimentos. Se ele conseguiu ou não definitivamente "colocar uma pedra em cima" do ato de sua ex-mulher, não sabemos. Mas, a reflexão sobre o perdão que o Evangelho no lar trouxe àquela família foi um lembrete a mais  para se libertarem pelo perdão. E, para nós, reforça a lição que da visita de 22/09/2011, que descrevemos na postagem Amai vossos inimigos, orai pelos que vos maltratam.
__________________________
*"Acaso" está entre aspas porque acreditamos que não existe acaso, mas causas que, no momento, não conseguimos identificar e que, em situações como a descrita, são predominantemente espirituais, isto é, causadas por influência de espíritos mentores.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Atividades do último sábado, 23/09/2011

Havia me programando há tempos (antes de receber o convite da diretora Marlene para reativar o programa de visitas às famílias), para participar do III Simpósio de Filosofia Espírita, organizado e promovido pelo Instituto Espírita de Estudos Filosóficos, presidido pela minha amiga Astrid Sayegh. 
O Simpósio, com o tema central "A mediunidade no contexto da comunicação", foi muito bem organizado, com ótimas palestras e excelente organização, destacando-se a amável orientação dada a todos participantes pelos voluntários do IEEF: 
  • Perdi-me (rs...) na ida para lá no 1o. dia. Em consequência, não assisti à abertura, tendo ouvido apenas o final da apresentação do excelente coral Vozes de São Paulo. E do pouco que ouvi deu-me pena por não ter assistido toda a apresentação. 
  • Na 1a. palestra, a prof. Olgária expôs uma brilhante síntese de relevantes contribuições da filosofia e mitologia grega para o pensamento filosófico atual.
  • Almejava assistir a palestra do prof. Franklin, dado o brilho e a clareza habitual de suas palestras, mas não pude, por uma boa causa: voltei à FEESP para fazer uma reunião com a equipe, para planejar as visitas do dia, nas quais iriam sem minha participação, pois estaria no simpósio o resto da tarde.
  • De volta ao simpósio, participei do workshop da tarde, com debates filosóficos.
  • O dia terminou com a boa palestra de Tiago de Lima Castro.
  • No 2o. dia, já "escolado", cheguei antes do início, podendo participar da abertura, da bela prece inicial e da ótima e bem humorada apresentação do Coral Canto Geral, com algumas das mais belas canções de Luiz Gonzaga e de seu filho Gonzaguinha, da qual todos participamos cantando os refrões e acompanhando com palmas rítmicas (principalmente os voluntários do IEEF, liderados pela sua presidente, mostrando que não são bons apenas na filosofia, mas também no baião e no samba!).
  • A palestra do prof. Carlos foi brilhante e inspirada!
  • A última palestra, da Prof. Astrid, foi, como costumam ser suas palestras, culta e entusiasmada! Lembro aqui a etimologia de "entusiasmo", que vem do grego enthousiasmós - exaltação daquele que está sob inspiração divina.
  • No Pinga-fogo "filosófico" que fechou o simpósio, Astrid, Tiago e Carlos Alberto responderam a perguntas da plateia, aprofundando assuntos tratados durante o evento.
Em relação às visitas às famílias nesse sábado, das quatro famílias selecionadas para visita, dois dos endereços estavam incorretos e as duas outras famílias não estavam (os assistidos sabem que os iremos visitar num sábado, mas não quando). É a 1a. vez que isto ocorre. Nas próximas visitas iremos com mais opções de famílias a visitar.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Amai vossos inimigos, orai pelos que vos maltratam

A segunda visita que realizamos sábado passado foi para uma vizinha da Dna. Márcia, outra participante do programa de atendimento a famílias da FEESP. Vamos chamá-la aqui de Sônia.


Sônia vive com seu companheiro (o nome que daremos aqui a ele é Donizete) há anos e está com câncer. Donizete trabalha (talvez um termo melhor seria "batalha", pois é um batalhador!) como guardador de carros - "flanelinha" -, sustentando a ambos: pagando o aluguel da pensão, a alimentação (complementada pela cesta básica que recebe da FEESP) e outras despesas. O tratamento e remédios de Sônia são fornecidos pelo SUS e por programas do Governo do Estado.


O trecho do Evangelho Segundo o Espiritismo que usamos nas duas sessões de Evangelho no lar desse sábado foi o item 16 do capítulo XIII, "Que a Mão Esquerda Não Saiba o que Faz a Direita". O item 16 fala da possibilidade que todos temos de fazer caridade, de ajudar o próximo, independente da condição econômica, social ou de saúde.


Na reflexão sobre a leitura, conversamos sobre as várias formas pelas quais podemos ajudar alguém. Não apenas a ajuda material, mas coisas simples, como ouvir com atenção e empatia as preocupações do nosso próximo, contribuir com a palavra amiga e ponderada. Mesmo um sorriso pode desanuviar tensões, melhorando a disposição do outro, tornando-o mais receptivo à boa palavra.


Sônia acredita nesta caridade e procura praticá-la. Mas, fala também de como suas mágoas e revoltas dificultam esta prática de coração. Conversamos, então, sobre o mal que causamos a nós mesmos com as "ruminações" de mágoas e ressentimentos. Lembramos de que alimentar ressentimentos é como tomar veneno esperando que, com isso, "morra" a pessoa de quem nos ressentimos*


Eduardo e eu contribuímos nesta conversa, com nossas experiências de vida e conhecimentos, mas quero ressaltar hoje a contribuição específica da Leide.


Nossa companheira Leide (apelido carinhoso da Marileide) falou de sua experiência de vida na superação das mágoas. Dando seu sincero depoimento, Leide disse que, no passado, costumava guardar e alimentar muitas mágoas e ressentimentos. Entretanto, com os estudos e a prática espírita, aprendeu a superá-las. Para isto, começou a colocar em prática a recomendação de Jesus: "Tendes ouvido o que foi dito: 'Amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo'. Eu, porém, vos digo: Amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem." (Mateus, cap. 5, versículos 43 e 44). 


Começou, então, a praticar oração e a emissão de boas vibrações para as pessoas de quem estava ressentida. No início foi muito   difícil. Porém, insistiu. Aos poucos (pois ela teve que fazer este "exercício" espiritual muitas vezes), a mágoa e o ressentimento foram diminuindo, até chegarem ao ponto em que compreendia plenamente - de coração e mente - o que levou a pessoa a fazer ou dizer aquilo que a machucou, desculpando-a e se libertando, assim, dos sentimentos negativos (veja, neste sentido, "Libertando-se das Correntes do Ódio", neste blog).


A fala simples e sincera da Leide parece ter tocado fundo o coração da Sônia. O tempo dirá o quanto esta semente positiva criou raízes e se desenvolverá, gerando bons frutos...


Sônia foi também lembrada do tratamento espiritual que é feito na FEESP, especificamente para pessoas com câncer, e ficou animada, propondo-se a frequentar. 


Terminado o Evangelho, estávamos todos os cinco - Sônia, Donizete (que participou com opiniões sinceras e ponderadas) e nós três - muito bem, renovados. Saímos de lá com as afetuosas e sorridentes despedidas do casal.


No corredor de saída, passamos pelo quarto de Dna. Márcia, que estava de porta aberta nos esperando e fez questão, apesar dos nossos protestos, de nos conduzir até a porta da rua, apoiada na sua bengala, mas sorridente e alegre. Graças a Deus!


Novamente, saímos com mais do que entramos!...
___________________
* Parafráse da fala de um dos personagens de Shakespeare, possivelmente na peça "A Tempestade", cujo tema trata de dor e reconciliação. É considerada por muitos como a última de sua autoria e uma obra prima.

A PRIMEIRA VISITA DESTE RECOMEÇO DE TRABALHOS

Sábado passado (17/09/2011), fizemos duas visitas. A primeira foi para uma velha conhecida nossa, Dna. Márcia (veja "Conformação e Conformismo", neste blog). Ela ficou muito feliz com nossa visita. Está bem melhor. Mora agora num cômodo de uma pensão, não mais num cortiço. O local e suas condições de higiene são bem melhores. E a nova medicação que toma está tendo bons efeitos. Ela tem esclerose múltipla, uma gravíssima doença degenerativa. É uma prova e tanto para qualquer pessoa, principalmente para uma mulher de meia idade sozinha e com parcos recursos...


Contudo, sabemos, como espíritas, que grandes dificuldades como estas decorrem de grandes necessidades de aprendizado. Tais obstáculos muito difíceis são uma maneira extrema dos nossos mentores espirituais, mensageiros da Luz, levarem-nos a crescer, evoluir, superando atitudes pouco saudáveis nas quais estagnamos, às vezes por séculos.


Dna. Márcia continua se conformando, sem conformismo. Por vezes se revolta e, nestes momentos, quer desistir de tudo. É muito difícil, para um espírito que possivelmente já esteve em altas posições sociais e de poder em outras vidas, viver nas condições em que vive agora. Mas, depois da crise, continua, persiste.


Neste novo tratamento, está também participando de um grupo de laborterapia. Os artesanatos que realiza a realizam. Está entusiasmada com os colares e broches que criou e nos mostrou. Insistiu que cada um de nós pegássemos algo, o que fizemos, pois sentimos que era uma maneira dela nos agradecer pela visita e por tudo que tem recebido da FEESP. Guardaremos estes presentes com carinho, pois com carinho foram dados e estão carregados de esperança e amor.


O Evangelho no lar que lá fizemos foi muito bonito, com participação ativa, interessada e com boas reflexões de Dna. Márcia. Saímos com mais do que entramos! Tentando ajudar, fomos muito ajudados. Tentando ensinar, aprendemos!...

domingo, 11 de setembro de 2011

LÚCIA

Vou contar sobre uma amiga da qual não direi o nome, porque não lhe pedi autorização (biografia não autorizada... rs...). Chamarei-a aqui de Lúcia, nome que vem do latim, derivado de lux (luz) e que significa "luminosa". Vocês entenderão porque lhe dei este nome, embora seu nome verdadeiro também tenha um belo significado.


Lucia tem uma história de vida inspiradora. Era uma moça tímida, insegura, mas orgulhosa. Pensava em fazer faculdade, mas temia não passar no vestibular e, se passasse, não conseguir acompanhar o curso. Isto até mais ou menos 18 anos, quando uma infecção afetou a parte central da sua retina (a macula lútea), local no qual enxergamos com maior clareza e definição. Em consequência, Lúcia perdeu mais de 80% da sua visão central, porém mantendo a periférica.


A moça insegura, mas orgulhosa, agora tinha que depender dos outros para pegar um ônibus, para ler uma placa, para muitas coisas simples que fazemos sem dificuldade e sem pensar a respeito. Ler um livro, uma revista ou um jornal, só com lupa. Muitas pessoas inseguras, nestas condições, ficariam ainda mais inseguras, mais fechadas para o mundo. Lúcia não. A perda de grande parte da visão mexeu profundamente com ela, mas no sentido positivo. Após o choque inicial, reagiu! Tornou-se mais segura, ao mesmo tempo que mais humilde. Mesmo com sua dificuldade de leitura, fez a  faculdade de pedagogia, trabalhou profissionalmente e tem levado uma vida muito ativa, produtiva, ajudando a muitos com sua colaboração espontânea e seu trabalho voluntário.


Sua paixão atual é o trabalho que realiza com crianças carentes e com suas famílias, no qual usa todo o seu empenho, carinho, o que aprendeu na faculdade, no curso para educadores espíritas e, principalmente, na sua experiência de superação.


A luz física externa que perdeu parcialmente, substituiu-a pela luz interna do espírito. Com isso, tem iluminado as pessoas à sua volta!

sábado, 10 de setembro de 2011

RECOMEÇANDO

Estamos recomeçando nosso trabalho de visitas a famílias carentes do centro da cidade de S. Paulo, para apoio espiritual e psicológico, complementando a assistência que recebem durante a semana, nos grupos que participam na unidade da Santo Amaro da Federação Espírita do Estado de São Paulo. Sílvia saiu para novos desafios e, sob a orientação geral da Marlene, diretora da Assistência Social, formamos uma pequena nova equipe: Leide, Eduardo e eu. 


Hoje fizemos a 1a. reunião, coordenada pela Marlene. Planejamos nossa atuação semanal, que será aos sábados, das 13h às 15h ou um pouco mais... Estamos esperançosos de um bom trabalho, almejando contribuir com o que temos de melhor para as famílias que visitaremos, orientando-as e as apoiando espiritual e psicologicamente, num trabalho no qual temos certeza que mais aprenderemos que ensinaremos...


Leide já havia atuado conosco no ano passado nas visitas. Em razão do curso que faz aos sábados de manhã, teve que parar, permanecendo, porém, no trabalho com o grupo de famílias assistidas na sexta-feira. Eduardo é o mais novo e o mais jovem integrante da equipe.


A Cris e a Leide farão a ponte entre os grupos de assistidos que se reúnem durante a semana e o nosso trabalho. Embora a Cris não tenha disponibilidade para vir aos sábados, atua em todos os grupos da semana: o de terça, o de quinta e o de sexta-feira. Conhece bem todas as famílias, suas características e necessidades. Tem condições, assim, de priorizar as famílias a serem visitadas.


A partir do próximo sábado, recomeçaremos as visitas e contarei neste blog nossas vivências e aprendizados com as famílias que visitaremos.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Um Guerreiro do Bom Combate

       Sílvia contou-me, sábado passado, sobre um dos nossos assistidos, que chamarei aqui de João.
       João foi abandonado pelos pais quando ainda bebê, sendo criado num orfanato público. Nunca chegou a ser adotado. Quando teve idade para sair do orfanato, trabalhou em várias atividades, sub-empregos, até começar como auxiliar de cozinha em restaurantes, função à qual se adaptou bem.
       Com  uma vida difícil, estudou apenas até o nível fundamental. Nos últimos anos, com quase 50 anos de idade, decidiu voltar a estudar.  
       Matriculou-se no ensino médio, à noite, tendo enfrentado inicialmente alguma gozação dos jovens colegas. Mas, sua dedicação e simplicidade conquistou-os e fez amigos. 
       Formou-se no ensino médio o passado e fez as provas do ENEM, tendo conquistado mais de 70% dos pontos possíveis! Com isso, está apto a ingressar em algumas faculdades, e a obter uma bolsa governamental, caso a faculdade seja particular. Pretende cursar hotelaria. 
       Sua persistência e simplicidade são uma lição de vida para tantos que, chegando a uma idade semelhante à dele, acham que não têm mais o que esperar da vida, que não tem mais chances e, por isso, desistem de lutar. Perdem a batalha sem ao menos travá-la.
       João é um guerreiro do bom combate, que é o verdadeiro combate, aquele no qual lutamos para superar nossas próprias deficiências intelectuais, emocionais e espirituais!